Tema: O ciclista, prestes a cruzar a linha de chegada de uma corrida.
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A Locomotiva Carlos
Marcelo Ferreira de Menezes
(Texto produzido na aula do dia 03/03/11)
Desde minha infância, sempre demonstrei uma grande atração por esportes. Futebol e tênis sempre foram os meus prediletos. Por ter voltado minha atenção quase que exclusivamente para eles, sobre muitas outras modalidades confesso não possuir muita informação. Sobre ciclismo, por exemplo, eu não sabia absolutamente nada; até o dia em que fui ver meu amigo ciclista disputando a final do campeonato. Ele vinha comandando o pelotão, em sua última volta. A linha de chegada estava cada vez mais próxima.
Aos gritos de incentivo de todo o velódromo, que nesse momento passou a torcer exclusivamente por ele, Carlos parecia voar a alguns centímetros do chão. Seus olhos negros estavam iluminados por uma certeza alimentada durante meses de treino. O capacete azul e vermelho, combinando com as cores de seu uniforme, guardava muito mais do que sua cabeça de fios dourados: guardava um sonho. Suas pernas, envolvidas pela bermuda de lycra preta, exibiam o vigor dos músculos trabalhando como máquinas ávidas de vitória. Pela pele bronzeada descia um rio de suor, que se transformava em um spray a cada brusco movimento para os lados, na tentativa de manter o ritmo. Seus ombros largos pareciam maiores naquele momento, funcionando como uma verdadeira barreira que impedia a ultrapassagem dos adversários.
A vibração da arquibancada era maior, e Carlos parecia ouvi-la, transformando-a em gasolina para seu espírito. Ele sempre estivera confiante em sua vitória e demonstrava isso com seu comportamento sempre otimista e guerreiro. Nunca se perturbava e não deixava que qualquer um esmorecesse ao seu lado. Ali, naquelas pedaladas firmes e vigorosas, deixava exposta a tônica de sua personalidade: a determinação inabalável. Ele era uma locomotiva rompendo os trilhos da vida. Seus sonhos todos estavam concentrados naquela aparentemente frágil bicicleta de alumínio, que já se convertera numa extensão de todo o seu corpo. E o verdadeiro troféu que reluzia em seu coração era todo feito com o ouro da garra e da vontade de vencer.
A partir daquele dia, deixei de acompanhar futebol e tênis para me dedicar inteiramente ao ciclismo. Não somente como amante do esporte, que passei a ser, mas como ciclista. A Locomotiva Carlos, o grande campeão da copa daquele ano, se converteu em meu treinador, e hoje sonho em um dia ultrapassar também aquela tão almejada por todos os atletas linha de chegada.