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Emprego da vírgula
A vírgula não foi feita para humilhar ninguém.
Paráfrase de Millôr Fernandes
Ao contrário do que alguns manuais insistem em afirmar, a vírgula não foi feita para demarcar as pausas de um enunciado. Na verdade, em termos fonológicos, na frase, ela tende a elevar a entonação da última sílaba da palavra que a antecede, deixando a sequência frasal em estado de suspensão, que se resolverá naquilo que será dito logo em seguida. Veja os seguintes exemplos:
a) A prática de se soltar balões juninos constitui crime. Cabe às autoridades coibi-la.
b) A Internet é hoje uma ferramenta indispensável; ela cobre várias dimensões sociais.
c) A televisão não deve sofrer qualquer tipo de censura; a liberdade de expressão é um direito irrevogável da sociedade.
Repare que existem pausas, interrupções, bem marcadas pela entonação descendente das últimas sílabas das palavras crime, coibi-la, indispensável, sociais, censura e sociedade. Apesar de algumas delas serem antecedidas pelo ponto e vírgula, a entonação se assemelha à feita quando, logo em seguida, vem um ponto final. Nesses casos, sim, há uma pausa bem marcada.
E quanto à vírgula? A pausa será a mesma? Não; em verdade ocorre um fenômeno diferente. Veja através destes exemplos:
a) A prática de se soltar balões juninos constitui crime, cabendo às autoridades coibi-la.
a) A prática de se soltar balões juninos constitui crime, cabendo às autoridades coibi-la.
b) A Internet é hoje uma ferramenta indispensável, pois ela cobre várias dimensões sociais.
c) A televisão não deve sofrer qualquer tipo de censura, já que a liberdade de expressão é um direito irrevogável da sociedade.
Mas, conforme dito inicialmente, a vírgula não foi criada para demarcar pausas, e seus fundamentos não são regidos pela eufonia, mas pela sintaxe. Podemos agora dizer que o uso da vírgula está condicionado à lógica das relações sintáticas. Cada vez que empregamos esse sinal, estamos demarcando instâncias sintáticas dentro do enunciado. Em função disso, é possível estruturar um período longo, sem que nele haja a necessidade do emprego dessa pontuação, o que demonstra que também seu uso não está, de maneira alguma, vinculado ao tamanho do enunciado. Veja:
As pessoas que tiram seu sustento de uma atividade degradante como a prostituição deveriam receber assistência dos governantes para que pudessem vir a exercer uma profissão de fato e mais digna.
Equivocadamente, muitas pessoas colocariam uma vírgula após a palavra prostituição, pois, na fala, é possível perceber uma leve elevação da entonação em sua última sílaba, o que levaria a supor a necessidade desse sinal ali. Contudo, seria um equívoco colocá-la, pois estar-se-ia separando o sujeito de seu verbo. Veja:
Quem deveria receber assistência dos governantes para que pudessem vir a exercer uma profissão de fato e digna?
As pessoas que tiram seu sustento de uma atividade degradante como a prostituição.
Tudo isso é o sujeito. Portanto, não há necessidade dessa pontuação em nenhum momento.
Vamos, então, ao primeiro princípio que rege o uso da vírgula: o princípio das relações essenciais.
a) Não se separam os termos sintáticos que se relacionam diretamente (o sujeito de seu verbo, os objetos de seu verbo, os complementos nominais de seus nomes, os adjuntos adnominais que modificam um substantivo, etc.), a menos que entre eles se intercale algum outro elemento sintático fora de sua ordem "natural" (como os adjuntos adverbiais) ou de caráter acessório (como os apostos e as orações subordinadas adjetivas explicativas).
a) Um vocabulário todo especial condiciona a comunicação nos ambientes virtuais.
Sujeito V.T.D. O. D. Adj. Adv.
b) Todo trabalhador quer carteira assinada e reconhecimento de seu trabalho
Sujeito V.T.D. O. D. C. N.
nos dias de hoje.
Adj. Adv.
c) As piadas que se baseiam na exposição ao ridículo das chamadas minorias sociais são um exemplo claro de que a sociedade ainda precisa aprimorar ainda mais seus conceitos sobre relações humanas.
Conforme se disse anteriormente, não se separam os termos sintáticos de relações essenciais, a menos que haja uma intercalação de elementos sintáticos ou mesmo uma inversão deles. Vejamos o caso das vírgulas de inversão.
Na língua portuguesa, na construção dos períodos, existe uma preferência pela organização dos elementos sintáticos na seguinte ordem: sujeito + verbo + complementos verbais (objeto direto e/ou indireto) + adjunto adverbial. Dizemos nesse caso que o período está na ordem direta. Portanto, não há que se colocar vírgulas em nenhum lugar.
a) Um vocabulário todo especial condiciona a comunicação nos ambientes virtuais.
Sujeito V.T.D. O. D. Adj. Adv.
Mas, se, por exemplo, trocarmos a posição do adjunto adverbial no período, torna-se obrigatória, desde que ele apresente três ou mais palavras, a utilização desse sinal.
A1) Nos ambientes virtuais, um vocabulário todo especial condiciona a comunicação.
B1) Nos dias de hoje, todo trabalhador quer ter carteira assinada e reconhecimento de seu trabalho.
O mesmo princípio é aplicado na inversão de uma oração subordinada, por exemplo.
Ordem direta (sem vírgula)
1) A população mundial ficou assombrada quando a Internet surgiu.
Inversão:
2) Quando a Internet surgiu, a população mundial ficou assombrada.
Ordem direta (sem vírgula)
1) Haverá um verdadeiro caos no mundo se um problema técnico tirar do ar a Internet.
Inversão:
2) Se um problema técnico tirar do ar a Internet, haverá um verdadeiro caos no mundo.
Ordem direta (sem vírgula)
1) A prostituição não pode ser compreendida como uma profissão de fato porque sempre foi o último recurso dos desvalidos da sociedade.
Inversão:
2) Porque sempre foi o último recurso dos desvalidos da sociedade, a prostituição não pode ser compreendida como uma profissão de fato.
Ordem direta (sem vírgula)
1) Os deputados brasileiros querem criar leis que garantam status profissional às prostitutas embora a prostituição seja uma atividade ainda discriminada.
Inversão:
2) Embora a prostituição seja uma atividade ainda discriminada, os deputados brasileiros querem criar leis que garantam status profissional às prostitutas.
Se entre os elementos de relação sintática essencial se intercalam outros, como adjuntos adverbiais, apostos e orações subordinadas, a intercalação deve ser demarcada por vírgulas; são as vírgulas de intercalação.
Ordem direta (sem vírgula)
1) A população mundial ficou assombrada quando a Internet surgiu.
Intercalação:
2) A população mundial, quando a Internet surgiu, ficou assombrada.
Ordem direta (sem vírgula)
1) A prostituição não pode ser compreendida como uma profissão de fato porque sempre foi o último recurso dos desvalidos da sociedade.
Intercalação:
2) A prostituição, porque sempre foi o último recurso dos desvalidos da sociedade, não pode ser compreendida como uma profissão de fato.
Ordem direta (sem vírgula)
1) Os deputados brasileiros querem criar leis que garantam status profissional às prostitutas embora a prostituição seja uma atividade ainda discriminada.
Intercalação:
2) Os deputados brasileiros, embora a prostituição seja uma atividade ainda discriminada, querem criar leis que garantam status profissional às prostitutas.
2) A televisão, essa caixinha de sonhos, é na verdade um poderoso difusor da ideologia das classes dominantes.
3) A censura aos meios de comunicação, que funciona como uma guilhotina do livre pensamento, jamais deveria ser posta em prática.
4) A televisão, que pode ser compreendida como uma caixinha de sonhos, é na verdade um poderoso difusor da ideologia das classes dominantes.
5) Quer dizer então, caros colegas, que vocês são favoráveis à liberação das drogas?
As conjunções pospostas também devem vir isoladas por vírgulas.
1) As leis podem transformar a prostituição em profissão; contudo jamais conseguirão extirpar o preconceito que essa atividade carrega.
As leis podem transformar a prostituição em profissão; jamais conseguirão, contudo, extirpar o preconceito que essa atividade carrega.
2) A Internet já é uma realidade e veio para ficar. Portanto os indivíduos de todo o mundo devem procurar a adaptação aos novos parâmetros decorrentes dela.
A Internet já é uma realidade e veio para ficar. Os indivíduos de todo o mundo devem procurar, portanto, a adaptação aos novos parâmetros decorrentes dela.
Além desses casos, existem ainda os fundamentos referentes à coordenação de elementos.
Usa-se antes das conjunções adversativas, conclusivas e explicativas:
1) A sociedade deveria sempre se manifestar com relação a tudo o que vai ao ar na televisão, mas nunca pedir que haja censura aos meios de comunicação.
2) As drogas causam lesões vasculares e cerebrais irreversíveis, logo não devem ser liberadas.
3) Nunca diga que a vitória está perdida, pois é de batalhas que se vive a vida.
Emprega-se a vírgula para coordenar elementos sintáticos de mesma função, exceto entre o penúltimo e o último elemento da enumeração.
1) Com o reconhecimento da prostituição como profissão, as prostitutas passariam a ter direito a carteira assinada, plano de saúde, aposentadoria, direito a sindicato e muitos outros benefícios, como cestas básicas.
Entretanto, se for intercalada alguma estrutura sintática entre a conjunção e e o último elemento da enumeração, as vírgulas devem ser empregadas.
1) Com o reconhecimento da prostituição como profissão, as prostitutas passariam a ter direito a carteira assinada, plano de saúde, aposentadoria, direito a sindicato e, apesar de muitos considerarem absurdo, muitos outros benefícios, como cestas básicas.
Também as orações reduzidas, de gerúndio, de infinitivo e de particípio, seguem as mesmas prescrições.
1) Quando chegar o momento de se manifestar, a sociedade saberá optar por uma solução mais digna.
Chegando o momento de se manifestar, a sociedade saberá optar por uma solução mais digna.
2) Depois de implantar a pena capital, a sociedade terá chegado ao fundo do poço.
Implantada a pena capital, a sociedade terá chegado ao fundo do poço.
3) Se você utiliza algum tipo de droga, deve esperar consequências danosas para a mente e para o corpo.
Utilizando algum tipo de droga, você deve esperar consequências danosas para a mente e para o corpo.
4) Se eliminarem das novelas as cenas apelativas de sexo e violência, haverá uma queda brusca de audiência.
Eliminadas das novelas as cenas apelativas de sexo e violência, haverá uma queda brusca de audiência.
Vamos praticar?
O texto abaixo teve sua pontuação modificada propositalmente para este exercício. Sem alterar os termos nem a sua ordem na frase, corrija a pontuação colocando ou retirando pontos finais, vírgulas, dois pontos ou pontos e vírgulas.
Tema: Antigamente o mundo era bem mais divertido; contar piada sobre negros, homossexuais e aleijados não era crime. Daqui a pouco, não vai mais haver assunto para uma boa anedota (Mauro Costa, 32 anos, escriturário).
Há algum mal em se contar esse tipo de piada? Posicione-se a respeito, tomando por base a frase acima.
Humor sem graça
(Texto produzido em sala, no dia 07/10/10, no esquema de prós e contras)
O humor sempre atraiu a humanidade todos gostam de dar boas risadas com uma história ou uma cena hilariante por isso criou-se o hábito de se contar piadas elas exploram todo tipo de tema para conseguir o objetivo maior que é levar o ouvinte ao riso desde crianças imorais a infidelidades conjugais quase todos os assuntos já foram abordados muitos se acostumaram também a contar piadas cujo foco eram pessoas portadoras de deficiências homossexuais e negros há apenas uns poucos anos não havia problema nisso mas hoje a sociedade passou a considerar esse ato algo politicamente incorreto.
Para muitas pessoas as piadas contadas no mundo exploram a diferença presente naquilo que foge ao comum e nisso elas não veem problema algum assim quando alguém perde o equilíbrio porque escorregou numa casca de banana e vai ao chão alegam que o riso surge pelo fato de ser interrompido algo bem simples andar se junto a isso vier um machucado “melhor ainda” a graça pode se estender também a outras situações as chamadas minorias também geram humor pobres que não fazendo parte das minorias encontram-se em desvantagem social homossexuais negros e deficientes são fonte quase inesgotável de assunto para as anedotas e quase todos gostam de ouvi-las defendem
No entanto ainda que tenham feito parte do repertório humorístico durante muito tempo elas desagradavam e ainda desagradam uma outra parcela da sociedade os familiares de pessoas com essas características e mesmo aqueles que tenham um ou todos esses caracteres para esse grupo de pessoas essas piadas não passam de um gesto deselegante e preconceituoso em sua maneira de pensar acreditam que tais anedotas são apenas uma crueldade revestida de brincadeira inconsequente e que somente geram dor e constrangimentos desnecessários para eles contar piadas étnicas e de minorias constitui crime que deve ser punido severamente.
A humanidade sempre precisará de momentos de descontração aliviar as tensões é algo que auxilia inclusive na saúde de todos o humor é mesmo o melhor remédio para o estresse contudo piadas preconceituosas não podem mais servir a esse propósito elas são facas de dois gumes ao mesmo tempo em que levam parte da plateia ao riso provocam o vexame numa outra parte além disso no Brasil constituem crime de preconceito ou racismo felizmente a sociedade já avançou o bastante para perceber o dano e para impedir que esse tipo de humor sem nenhuma nobreza possa continuar gerando seus efeitos negativos.