Períodos de tirar o fôlego (Em 29/10/12)

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Como deixar seu texto mais arejado
Marcelo Ferreira de Menezes


 Há muitos aspectos que devem ser observados quando o que se busca é o sucesso da redação de um texto dissertativo. A seleção dos argumentos sólidos, baseados em fatos; a objetividade e a clareza da exposição, que deve buscar ser concisa; a seleção do vocabulário, que deve ser simples mas, ao mesmo tempo, elegante, são atributos que valorizam a dissertação. Além disso, o resultado deve ser fluente, agradável de ser lido, sem trechos truncados, cheios de inversões caprichosas e longos demais. A leitura não deve exaurir o fôlego leitor, ainda que seja um "fôlego" mental.
Pensando nisso, você deve ter em mente que parágrafos com períodos extensos demais, intermináveis, causam desconforto para quem está lendo. Muitas vezes, deparamo-nos com alguns períodos tão longos, que a releitura se torna uma necessidade para a depreensão do sentido ali contido. O recomendável é que seu período não ultrapasse o número de três linhas. Veja o exemplo que se segue:

Num país cuja classe política se preocupa muito pouco com o dia a dia da população, que não se esquiva de compactuar com os casos de corrupção e de mal uso da verba pública, que não se envergonha de ocupar a posição de destaque nas notícias veiculadas pelos principais meios de comunicação, pois, a cada dia que passa os jornais denunciam um novo escândalo, como o julgamento do "mensalão", que todos sabem que não vai dar em nada, mas que ocupa a pauta dos principais noticiários do dia. O povo deve despertar para o fato de que é ele quem decide os rumos de sua cidade, de seu estado, de seu país.

Repare que o parágrafo possui apenas dois períodos, e o primeiro apresenta alguns probleminhas. Iniciando-se por uma inversão de adjunto adverbial Num país, o redator partiu para uma enumeração de orações subordinadas adjetivas restritivas e não parou mais, esquecendo-se inclusive da oração principal, onde figuraria o sujeito e seu respectivo verbo, como em Num país cuja classe política se preocupa muito pouco com o dia a dia da população, é difícil convencer alguém de que a participação política é algo importante. Relendo o trecho original, fica claro que algo está faltando. Vamos então reescrever o parágrafo, desmembrando em mais períodos algumas das ideias ali presentes.

Num país cuja classe política se preocupa muito pouco com o dia a dia da população, é difícil convencer alguém de que a participação política é algo importante. Os escândalos de corrupção e mal uso da verba pública se vão acumulando, e a certeza da impunidade parece conferir aos envolvidos uma invulnerabilidade que lhes impede até mesmo a vergonha. Tudo isso impressiona o cidadão, levando-o à descrença nas instituições, à falta de esperança nas mudanças e ao afastamento do necessário exercício político. Mas o povo deve despertar para o fato de que é ele quem decide os rumos de sua cidade, de seu estado, de seu país e, consequentemente, de seu próprio destino como brasileiro. Por isso é tão importante fazer da política um exercício consciente e diário.

Perceba que nenhum período ultrapassou a extensão de três linhas, o que tornou a leitura mais fluente e a exposição das ideias mais precisa. Procure trabalhar com esse padrão em seus próximos textos, certo? E tenha em mente que tudo é uma simples questão de treino. Treine sempre e sem perder o fôlego!