Relações incestuosas (Em 19/09/2012)

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Um tema bastante polêmico e encarado ainda como um tabu pela sociedade pós-moderna, o incesto suscita questionamentos bastante contundentes, dividindo as opiniões. Leia e confira como os dois textos dissertativos a seguir, redigidos de acordo com o esquema de prós e contras, analisam, com argumentos lúcidos e consistentes, essa controversa questão.




Tema dissertativo: A sociedade deveria considerar natural o relacionamento incestuoso entre parentes que não foram criados juntos?


Incesto: normal ou anormal?
Danyllo Ferreira Quaresma Pêgas

       Tema considerado polêmico, o incesto sempre foi um tabu em nossa sociedade. Entre vários casos, há aqueles em que o relacionamento afetivo envolve o consentimento das duas partes. São casais que não cresceram juntos e por isso não desenvolveram o sentimento relativo ao grau de parentesco sanguíneo que eles têm. Muitas pessoas condenam esse tipo de relacionamento incestuoso, mas há uma parte da sociedade que não vê problema nesses casos. A questão é se sociedade deve considerar naturais tais relacionamentos.

       A maioria da população afirma que não se deve encarar tal fato como normal, pois, segundo dizem, o incesto, em todas as suas formas, não condiz com a cultura e com as religiões que a sociedade atual adota. Alegam também que se deve pensar no futuro da população, pois filhos de casais consanguíneos têm maior predisposição a desenvolver doenças genéticas, comprometendo, assim, a saúde de todos os indivíduos de modo geral. Argumentam ainda que, do ponto de vista comportamental, o incesto fere a moralidade da sociedade, pois acreditam que tal relacionamento é naturalmente imoral.

       Contudo, uma boa parcela da nossa sociedade afirma que o ser humano tem o direito de livre escolha. Se a atitude do casal incestuoso não ferir as normas de seu país, o par pode, sim, ser feliz como um casal. Dizem ainda que o amor não diferencia cor, sexo, pessoas e, nesses casos, o parentesco. Quando o amor envolve um casal, segundo esse grupo, este tem o direito de ficar junto, mesmo que tal atitude não agrade a outras pessoas. Afirmam ainda que, justamente por não terem sido criados juntos, quando se conheceram, o sentimento que surgiu foi exatamente o mesmo que surge quando um casal não consanguíneo se conhece e se apaixona, devendo, então, ser tratado como um casal normal.

       Nos dias de hoje, mesmo com todo esse tabu estabelecido em torno desse assunto, é coerente afirmar que casais que praticam o incesto consentido, quando não criados juntos, devem ter o direito de manter seus relacionamentos afetivos. A grande peregrinação do homem objetiva encontrar o amor e a felicidade verdadeiros, e esses casais, mesmo de uma maneira não convencional, alcançaram esse objetivo. Se, nesses casos, não há a criação conjunta, tais casais devem ser equiparados aos demais casais, e seus relacionamentos devem ser considerados naturais.




Incesto: conceito social
Danusio Gadelha Guimarães Filho

       A atração entre parentes, consanguíneos ou não, é um tabu milenar que, como qualquer relacionamento afetivo, passa pelo crivo da moral e da ética. O conceito de parentesco está mais ligado a uma condição psicológica que a uma simples questão de genética: pais adotivos não são considerados “menos família”, por exemplo. Quando não há a criação conjunta, essa noção torna-se mais difusa, abrindo espaço para a concepção de uma relação incestuosa.

       Os que não compactuam com o incesto, sob nenhum aspecto, buscam na religião, mormente na Bíblia Sagrada, razões para discordar do ato: o Antigo Testamento comina punições severas a seus praticantes. Reforçam também que uma relação incestuosa destruiria a estrutura familiar, posto que nossa sociedade tenha sido moldada com padrões não condizentes com essa relação. Alegam, além disso, o fato de que combinar as cargas genéticas de parentes consanguíneos favorece a transmissão de genes recessivos, alguns dos quais relacionados a doenças.

       Por outro lado, os que entendem que os vínculos familiares são formados e mantidos pela convivência argumentam que, se duas pessoas são criadas separadamente, não existe o reconhecimento mútuo de parentesco e, portanto, não há a violação moral trazida pelo incesto. Afirmam ainda que a rejeição da sociedade à relação incestuosa é uma herança cultural, podendo perfeitamente se tornar aceitável em gerações futuras, desde que o processo de aceitação fosse iniciado nos dias de hoje. Por fim, salientam que proibir uma relação afetiva baseada em genética é equivalente a proibi-la porque o casal é portador de diabetes ou Síndrome de Down, já que estas são transmitidas hereditariamente, o que culmina em discriminação.

       Pelo exposto, é sensato aceitar a relação entre parentes que foram criados em lares separados, visto que as possíveis restrições morais perdem sentido, pois a noção de família é consubstanciada na convivência. Não parece justo privar duas pessoas da felicidade baseado em conceitos arcaicos e de fundamentação questionável, forjados por tradições e dogmas. Até porque, se os envolvidos não veem entre si laços de sangue que lhes impeçam o amor, ninguém é apto para afirmar que estes existem de fato.



       Leia mais à frente o texto União Perigosa, que faz uma abordagem diferente a respeito do assunto incesto.