Zumbi dos Palmares - A história do Brasil que não foi contada (09/10/11)

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Eduardo Fonseca Júnior
Historiador e Africanólogo

Sobre o Autor

Eduardo Fonseca Jr., natural do Rio de Janeiro, é bacharel em Relações Internacionais, professor de Ciências Políticas e Economia e Expansão do continente Africano, professor de Teologia e Cultura Afro Negra, jornalista, ex-diretor dos Diários Associados de Brasília, publicitário, fundador da Associação Profissional dos Publicitários do DF e ex-gerente de Mídia da Grant Publicidades, gerente de Marketing Internacional da Holiday Tours dos EUA para América Latina, filólogo, autor do 1º Dicionário Yorubá-Nagô-Português, historiador, autor do livro Zumbi dos Palmares - A História do Brasil que não foi contada, consultor de assuntos Afro-Brasileiros da Editora Globo para a Revista Destino e Anuário, africanólogo, presidente do Conselho Nacional de Cultura Afro-Brasileira, diretor da Sociedade Yorubana Teológica de Cultura Afro-Brasileira e editor da Yorubana do Brasil Sociedade Editora Didática Cultural Ltda, empresário, diretor da Afrobraz - Comissária Afro-Brasileira de Negócios Ltda, membro da União Brasileira de Escritores UBE, Sindicato dos Escritores do Distrito Federal, Sócio militante fundador do Clube da Imprensa do DF, Sindicato dos Publicitários do Estado do Rio de Janeiro, ex-diretor geral da Rádio Planalto de Brasília e Diretor da TV Brasília, Membro efetivo do CEBRES - Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos da ADESG - Associação dos Diplomados da ESG.

(Extraído do livro Zumbi dos Palmares, A História do Brasil que não foi contada, de Eduardo Fonseca)




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Relembrando Zumbi

Em 1545, o donatário da Capitania da Paraíba do sul, Pedro de Góis, escrevia ao seu sócio em Lisboa, Martim Ferreira, solicitando a remessa urgente para a referida capitania de “ao menos setenta Negros de Guiné”. Ele contava dali a um ano e meio despachar para Portugal duas mil arrobas de açúcar, desde que seus sócios providenciassem a vinda do maior número possível de colonos e, principalmente, de escravos africanos. Em 1559, com Dona Catarina como Regente de Portugal, foi assinada a permissão para que cada um dono de engenho no Brasil pudesse comprar até 120 escravos africanos. Era o passo inicial para um famigerado sistema de dominação e escambo que, durante três séculos, dominaria as três Américas e, em específico, o Brasil.

         Cinquenta anos mais tarde, esse tráfico crescera a proporções estarrecedoras envolvendo desde a Igreja Católica e Protestante até o mais simples fazendeiro, transformando a proporcionalidade entre brancos e negros no Brasil a dois negros para cada branco. Como é sabido, o tratamento que os traficantes e os senhores de engenho davam aos escravos era extremamente desumano, chegando mesmo às raias do sadismo. Os escravos que na África, em suas tribos, eram rivais de outras tribos, no Brasil se uniram contra o colonizador português e, unindo-se, trocaram informações e conhecimentos os quais foram úteis aos processos de fugas e instalação de refúgios. Estes foram chamados de Quilombos.

Em apenas cinquenta anos, os quilombos foram aparecendo por toda a colônia, levantando uma bandeira de resistência contra o colonizador português. Tal fato não aconteceu nas colônias americanas do norte, devido à massificação protestante que não permitia a identificação étnica dos escravos, limitando-os a um primeiro nome e o sobrenome do proprietário dele. No Brasil, obviamente foi estabelecido um sistema de combate aos quilombos mediante à contratação de bandeirantes, mercenários e capitães do mato. Em grande parte vencedores, os contratados dos fazendeiros levavam a vantagem de estarem bem municiados e respaldados por recursos financeiros, enquanto os habitantes dos quilombos contavam apenas com os recursos que os locais lhes forneciam e suas táticas africanas de origem.

No começo do século XVII, foi construído em Alagoas o primeiro Quilombo dos Palmares, o mais famoso de todos do Brasil. Palmares era uma verdadeira cidadela de resistência a todos os ataques vindos por parte dos fazendeiros. E o foi por quase um século. O complexo de Palmares começou com o quilombo do Amaro, depois com o Sucupira, seguido do Macaco e finalmente o quilombo do Gigante. Exceto o Quilombo do Gigante, todos os demais foram destruídos pelos próprios ex-escravos. Estima-se que a população de Palmares tenha chegado a cerca de 25 a 30.000 pessoas, no período compreendido entre 1620 e 1695.

A organização Palmarina em nada devia aos costumes e leis europeias, uma vez que já a tinham na Velha África. A descrição do navegador holandês Olfert Dapper em 1602 relata a cidade de Benim na áfrica Ocidental (Nigéria) como “sendo uma cidade composta por ruas largas e perpendiculares com casas construídas lado a lado, com um ou dois pisos, sendo que de tais ruas, de tão extensas, não se vê o fim. Toda a cidade é ladeada por grandes paliçadas e profundos fossos”. Imagina-se, portanto, que o famoso Quilombo do Gigante em Palmares, construído pessoalmente por Zumbi, tenha sido 85 anos depois deste relato algo igual ou superior à cidade de Benin. Caso contrário, não teriam sido necessários 11.000 soldados e 5 anos de cerco com artilharia pesada e canhões para destruí-lo.

Os habitantes de Palmares, liderados por Zumbi e Gangazumba, e estes assessorados por hábeis generais como Bambuza, Cynianta, Dumdum, Mukumbe, Papua, Shegun e outros valorosos membros das elites tribais africanas trazidas para o Brasil, tinham uma estrutura de defesa e uma capacidade de resistência somente comparável à cidade de Troia na história da humanidade.

Dentro do campo da subsistência diária, líderes como o sumo sacerdote Bambushê Adinimodó e o sacerdote Kaundê obtiveram ensinamentos sobre agricultura extensiva e rotativa, sendo esta última completamente ignorada por parte dos fazendeiros brancos. A resistência de Palmares ante aos inúmeros ataques que sofreu por tropas enviadas pelo Governador geral do Brasil em Salvador e pelo governador geral da Capitania de Pernambuco em Recife só foi possível mediante a doação de armamentos que lhes foi feita por Maurício de Nassau durante a permanência dos holandeses no Brasil, de 1637 a 1654.

A terra pertencia a todos, e o seu produto era dividido por todos. Cada habitante tinha sua residência e podia plantar dentro da área de sua residência o que bem entendesse. Os trabalhos de construção, preparo de lavouras e estoque eram divididos por todos. As crianças eram ensinadas e preparadas desde a infância para todos os eventos desde os costumes tribais até a guerra. As mulheres eram encarregadas da tecelagem e guarda do estoque de alimentos nos silos destinados a tal.

Tal foi a importância da estrutura do Quilombo de Palmares, que seus produtos em lavoura e artesanato foram durante anos comercializados com os habitantes das cidades de Recife, Una, Porto Calvo e Seriahem, obtendo a preferência dos habitantes ante aos produtos oferecidos pelos fazendeiros locais. Uma das razões dessa preferência devia-se à melhor qualidade e tamanho dos produtos de Palmares, conseguidos com suor, mas sem lágrimas.

Enquanto existiu, o Quilombo dos Palmares foi a maior dor de cabeça que Portugal e Algarves tiveram no Brasil durante o século XVII, levando o Conselho Ultramarino de Lisboa à loucura total e desespero, investindo altas somas para sua destruição. Mil e quinhentos fidalgos portugueses viviam estritamente do tráfico de escravos para o Brasil, o qual atingiu a soma de 8 milhões de almas. Zumbi dos Palmares deixou uma grande lição na sua luta contra o colonizador branco: a liberdade é um bem precioso demais para ser desperdiçado. Muitos serão libertos e novamente se jogarão como escravos. Para estes a liberdade jamais existiu e jamais poderá existir.

Palmares foi finalmente destruído no dia 20 de novembro de 1695, depois de pelo menos 5 anos de ataques sucessivos liderados por Domingos Jorge Velho, André Furtado de Mendonça e Bernardo Vieira de Melo em expedições financiadas pela Coroa Portuguesa e fazendeiros locais.

Por este feito, ambos receberam concessões de sesmarias e prêmios, depois de levarem a cabeça de Zumbi (?) a Recife. Mas tanto Jorge Velho, como André Furtado de Mendonça e Bernardo Viera de Melo tiveram, ao invés da glória, um fim trágico. O primeiro, após radicar-se no Ceará, morreu no total esquecimento. Bernardo Vieira de Melo foi preso em Porto Calvo a mando do Governador Caldas e remetido à Lisboa, onde morreu na prisão. André Furtado de Mendonça, preso por envolvimento com uma insurreição, foi assassinado por desconhecidos.


E quanto a Zumbi?

Zumbi está cada vez mais vivo em nossa história, não só como o herói do povo negro, mas como um ícone da luta pela LIBERDADE.

(Dados extraídos do livro Zumbi dos Palmares, de Eduardo Fonseca)
Consulta realizada no site da Sociedade Yorubana, www.yorubana.com.br, em 09/10/2011.