Entre Vistas
Marcos Real, 46 anos, empresário e Diretor Presidente da SAB
O senhor é natural de que cidade?
Natural do Rio de Janeiro.
Qual a sua profissão?
Empresário.
Desde quando o senhor desempenha o balonismo?
Balonismo seria o esporte de balões dirigíveis, aqueles com uma cesta. Solar, balão de papel fino é uma cultura popular e somos conhecidos como baloeiros. Nasci no subúrbio do Rio e meu Pai já tinha essa cultura me levando para presenciar as solturas de balões.
Essa atividade para o senhor é um hobby ou há também alguma relação comercial?
Hobby, paixão!!! Para nós da Sociedade Amigos do Balão todo dinheiro arrecadado é para defesa da nossa cultura.
Como foram os seus primeiros contatos com a tradição dos balões?
Como já falei, é herança de família, o colorido e o fogo dos balões
fascinam as crianças, não há como negar.
Qual a sua opinião sobre os baloeiros que produzem e soltam seus balões empregando o método da bucha incandescente?
O trabalho da SAB tem duas vertentes. Uma é defender a prática dentro da legislação existente com a divulgação do balão sem fogo, mantido no céu pela energia solar. A segunda é mover no meio político a defesa da prática tradicional. Já se soltam balões com buchas auto-extinguíveis. O que falta é regulamentar para reduzirmos os riscos.
Qual a sua opinião sobre a Lei 9.605 de 1998?
É uma lei tecnicamente errada; não levaram em consideração nossas
garantias constitucionais de preservação da nossa cultura, vide artigos 215 e 216. Tem sua redação punindo por presunção, ou seja, todo balão causa incêndio. Levam em consideração o perigo abstrato, pune antes que o fatogerador possa causar algum dano, muito questionado no meio jurídico. O Brasil é o único país no mundo que criminalizou essa cultura, no exterior somos idolatrados, os melhores.
O que é o balão ecologicamente correto?
O título ecológico seria para o balão que não causa incêndio. Portanto,
para a SAB todo balão que for solto com técnica de não causar incêndio tem na sua concepção a sustentabilidade.
Como surgiu essa idéia?
Tínhamos a defesa do balão solto de forma tradicional muito enfraquecida pela campanha negativa de toda a mídia; o preconceito e a ignorância são muito fortes quando falamos na cultura dos balões juninos. É triste, mas só no Brasil é assim.
Em 2009 um baloeiro carioca, Chico da Turma da Brasa tomou a iniciativa de confeccionar o primeiro balão com o propósito de soltá-lo sem fogo. No passado já havia se soltado outros, mas nenhum tão belo e com o propósito de dizer às autoridades que daquela forma era livre, era permitido. Ainda não estava na diretoria, e junto com outros amigos do balão achamos a idéia sensacional. Seria uma forma de quebrar paradigmas e abrir novamente a mesa de negociação.
No mesmo ano fizemos o primeiro festival com todas as autorizações. Foi emocionante ter a liberdade se soltar balão em praça pública com um público de três mil pessoas, com turmas do Rio, São Paulo.
Depois desse aconteceu outro em 2010 na cidade de Mogi das Cruzes
organizado pela UNIÃOAP – SP e novamente na cidade de São Gonçalo, no Rio de Janeiro, em 2011, com público de dez mil pessoas.
Alguma entidade da esfera pública demonstra simpatia por tal projeto?
Não temos dúvidas que a questão do balão junino no Brasil é política. Já temos um projeto na câmara dos deputados e na câmara dos vereadores do Rio; projetos para regulamentar o balão que não causa incêndio. Quando falamos que os balões são sem fogo tudo muda.
A SAB recebeu o ex-Ministro da Cultura, o senhor Gilberto Gil, para uma reunião. Quais foram os resultados práticos dela?
O balão é ícone das festas juninas e em nosso cancioneiro popular isso não há como negar, e quando Gil fez a música Estrela azul, eu disse para os diretores: “Precisamos fazer contato com ele e trazê-lo para nossa causa; precisamos de pessoas influentes na sociedade para mudar a imagem do balão”. No encontro, num primeiro momento, ele demonstrou o pensamento que a mídia vem formando na população, que o balão é um mal para a sociedade. Mas, no decorrer do diálogo, deixamos a mensagem de que precisamos encontrar o ponto de equilíbrio; exterminar a cultura seria inconstitucional. No encontro fomos convidados para o São João Carioca, onde elevaríamos um balão como parte do show. Foi emocionante ver Gil e Elba cantando: “Olha pro céu, meu amor, veja como ele está lindo, olha pra aquele balão multicor, que lá no céu vai subindo...”. Nesse momento nosso balão surgia por trás do palco, e o público foi ao delírio. Gil foi Ministro da Cultura, e vamos tentar outros encontros para fortalecermos nosso trabalho.
Apesar de as polícias Ambiental e Militar autorizarem o balão de ar quente, a Aeronáutica ainda resiste a essa idéia. Mesmo apagados, esses artefatos realmente não constituem um perigo à aviação? Os militares falam muito dos riscos de um balão ser sugado por uma turbina, o que poderia derrubar um avião. O senhor considera esse risco?
Para falar de risco do balão para aviação prefiro levar a questão para as estatísticas. Desde a invenção do avião, lá se vão mais de cem anos, e do balão de papel fino, mais de trezentos anos, nunca existiu acidente entre ambos, as estatísticas advogam a nosso favor. Para a SAB isso não passa de terror, pânico, como adjunto à campanha de satanizar o balão junino. Tudo para esconder a falta de estrutura da Aeronáutica de controlar o espaço aéreo, e aí nesse caso o balão seria mais um complicador no meio do caos.
Admitimos que os balões próximos aos aeroportos sejam preocupação no sentido de aumento de custo operacional das empresas de aviação no caso de algum incidente, que por sua vez pressionam as autoridades alegando perigo, mas como solução seria uma limitação do espaço para praticar a atividade, criando um raio de distância dos aeroportos. O Código Aeronáutico, em um dos seus artigos, já fala algo a respeito para esportes aéreos, e só não cita os balões de papel por ser uma figura atípica. Tudo que envolva os balões, cairemos em uma palavra: regulamentar!!!
Quando os balões caem, as redes elétricas e o trânsito, principalmente o das rodovias, não podem ser afetados de alguma maneira?
Com relação às redes elétricas, os balões já levam seus aros com material isolante, e, em queda em rodovias, não vemos nenhum perigo, pois são figuras visíveis, frágeis e caem suavemente.
De que forma são feitos os resgates dos balões?
O resgate dos balões tem sido assunto de debate. Há um consenso de que baloeiro de verdade não sai em resgate do seu balão; faz por paixão e quer vê-lo no céu expondo sua arte, sua criação. A figura do resgateiro tem sido muito criticada no meio dos baloeiros, e temos consciência de que vem denegrindo essa prática por vários casos de
brigas e depredação do patrimônio público e privado na disputa de quem vai ficar com o balão.
A SAB tem ideia fechada de que o balão não tem nada a ver com o cidadão que não respeita a lei; damos o exemplo das torcidas que vão aos estádios para brigar: ora! Vamos acabar com o futebol por causa deles?
Quais são os formatos que podem ter os balões?
Os balões de ar quente precisam ter sua parte superior com maior área possível para absorver o calor do sol e assim ter mais autonomia de voo. Modelos mais apropriados seriam o truff, o modelado e o pião careca.
De que é feita sua estrutura?
Tudo tem que ser muito leve para se sustentar sem o fogo das buchas. São confeccionados em papel de seda, linha fina na vertical de suas emendas para reforçar o papel de possíveis rasgos e na horizontal fitas durex com o mesmo propósito. Sua parte superior de preferência deve ser de cor preta para absorver o calor do sol e fazer o balão ter uma autonomia maior de voo. Seu aro é de fibra, caniço ou material metálico com fita isolante. Podem levar como adereços bandeiras sustentadas em uma antena feitas de flecha de ubá, asas-delta, paraquedas, etc., tudo em papel fino.
Quantos quilos pesam em média os piões de noventa metros?
Quando falamos em regulamentar os balões, a questão do limite de seu tamanho também estaria incluída. Somos contra o gigantismo e me parece que a vaidade também mexe com os baloeiros na intenção de superar limites. Um balão desses pode pesar até cem quilos só de papel.
Muitas vezes vemos balões carregados de fogos de artifício, luzes de led e de lanterninha (copinhos). A Sociedade Amigos do Balão coloca esses dispositivos em seus balões?
A modalidade dos balões sem fogo seria somente durante o dia. Somos contra fogos de artifícios em balões por acreditarmos que esse acessório cria a potencialidade de perigo dos balões tanto no seu lançamento, quanto na sua queda.
Como a imprensa tem recebido a iniciativa dos balões ecologicamente corretos?
Interessante que esse tema na imprensa é mais do profissional (preconceito) do que do jornal em que ele trabalha, só para dar um exemplo. No festival de Mogi, tivemos a Rede Globo fazendo uma cobertura maravilhosa, apoiando a iniciativa. Já aqui no Rio a mesma empresa buscou criticar, levantando a questão do perigo aos aviões. Mas, de uma maneira geral, com o fato de tirar o fogo, a aceitação é muito boa.