Pinceladas descritivas (Em 29/03/2013)

       As redações selecionadas para esta postagem foram produzidas antes que os alunos tivessem conhecimento da Teoria da Descrição e do Esquema Básico de Descrição. Feitos a partir da atividade apresentada abaixo, os textos revelam sensibilidade e, ao mesmo tempo, olhar seletivo e perspicaz. Aprecie os variados estilos de se perceber o mundo e descubra novas sensações! Boa leitura!

       Observe a paisagem abaixo.




       Imagine-se nessa paisagem. Tente reproduzi-la em palavras de forma que o seu texto forme esse retrato. Para isso, explore as sensações (visuais, auditivas, olfativas, táteis e gustativas) que essa imagem desperta em você. Se possível, utilize conotação. Use sua criatividade!

O seu texto deverá conter quatro parágrafos (com um mínimo de 20 linhas e um máximo de quarenta) e um título.



O reflexo do gigante
Rian Macedo Santos

      Próximo às margens de um lago de águas escuras, a pequena vegetação rasteira, colorida por delicados brotos alaranjados, admira a imponência dos grandes pinheiros que envolvem o espelho d'água.
         O clima e a beleza da tundra quebram o gelo da enorme cadeia disposta distante. Nem o verde nem o sol radiante são o suficiente para colorir os montes. Grisalhos pelo tempo e pela altitude, são como uma foto em preto e branco colocada em um álbum em cores.
        O suave aclive gramado parece se estender até o alcance das colinas, enquanto galhos secos e pequenos arbustos atrapalham seu percurso. Nada pode se movimentar sem o consenso da brisa, que torna a suave lâmina do lago uma vidraça canelada.
      O reflexo no lago faz lembrar os vitrais das catedrais antigas. A imagem da montanha submersa de ponta-cabeça provoca a curiosa sensação de desorientação espacial, fazendo o lago parecer a porta de entrada para uma paisagem inspiradora.


Paisagem exuberante
Priscila de Oliveira Rossetto

    No despertar de uma manhã de primavera, levantam-se com ela um suave aroma campestre, a paz e a graciosidade para preencher as lacunas de uma sublime paisagem. A harmonia é então estabelecida e ela passa a reinar de um nascer do sol a outro.
       O céu sem nuvens anuncia o esplendor do dia. Aves altaneiras cruzam ligeiras a abóboda celeste, quase sem serem notadas. No horizonte, majestosas montanhas cobertas de neve brotam do solo e, de tão altas, parecem tocar a imensidão azul. A brisa fria e suave que desce suas corredeiras congeladas toma conta de todo o vale. Os cumes, expostos ao vento, exibem lindos desenhos ondulados sob a neve. O pouco verde lá existente se esforça para resistir à temperatura na montanha, permanecendo firme e unido.
    Uma densa floresta de pinheiros abraça a montanha, assim como a grama faz a uma árvore. Em meio a tantos galhos e folhas pontiagudas, abre-se uma clareira, preenchida por um límpido lago transparente, que reflete o azul do céu. Às suas margens, uma vegetação verde e sedenta envolve com carinho toda essa água que derreteu da montanha. As flores, radiantes e contentes, parecem cantar e dançar com a presença dos finos e delicados raios de sol, que pousam sobre a região. O ar frio deixa a paisagem em silêncio, mas, ainda assim, algumas aves tímidas se arriscam a soltar seus cantos atraentes.
    Ao som distante dos pássaros e sob um belo céu azul, a paisagem convida para um passeio. Convida a passar por entre as árvores, a tocar a superfície do lago com a ponta dos dedos e a sentir o vento frio e a neve para conhecer melhor esse lugar tão rico e apreciar suas belezas sem par. Sob essas sensações, sente-se a paz e pode-se perceber a vida a correr em cada caule, no pulsar de cada coração, no nascer de cada flor.


A natureza mágica
Raphaela Siqueira de Almeida

      Em um dia de folga, resolvi fazer um passeio para apreciar a natureza. O local escolhido foi um parque natural com uma paisagem exuberante e imponente, diferente de tudo que eu já tinha visto. A sensação que aquele lugar transmitia era a de que eu passaria um ótimo dia ali.
      Às margens do lago estavam montanhas confeitadas de açúcar, que o tempo frio ajudara a formar. Ao redor pairavam grandes águias que saboreavam o doce gosto da liberdade e viam do alto o palco da criação divina cujos atores vislumbram-se ao se apresentarem. O fundo do cenário era completado por um céu empipocado de nuvens que mais pareciam bolinhas de algodão passando ao ritmo do vento.
     O belo lago ao centro refletia, sob a fraca luz do sol, a silhueta das árvores e montanhas, que refrescavam o local, e servia de passatempo aos audazes pescadores. O vento de inverno parecia cortar e enrijecer a pele e emitia um assobio que irrompia de todos os lados. Trazia também o perfume suave das flores e da vegetação ao redor. As árvores em suas diversas formas eram como convidados em um baile, dançando ao som do vento vestidas elegantemente de acordo com a estação. O farfalhar de seus galhos e folhas e o cantar dos pássaros compunham uma grande orquestra cujo concerto não tem dia nem hora para terminar.
    No fim da tarde, o sol dá adeus, lentamente, àquele lugar, cedendo sua vez ao mar de estrelas. E, merecidamente, as almas vão se recolhendo, aos poucos, para o seu repouso.


A grande agulha gelada
Raphael de Oliveira Leal

     O som voraz do condor é trilha sonora de onde a agulha gelada fura os céus. A floresta nasce aos pés do monte e as árvores seguem a direção do cume e são refletidas no lago de águas gélidas, onde nadam trutas e outros peixes de sangue gelado. Ali as flores são uma mistura de frio e cores.
     A montanha brota da grama verde orvalhada, fazendo-se de morada para condores. No inverno ela some embaixo de neve e nuvens. Na primavera, seu gelo derrete, fazendo-a chorar rios, os quais irrigam flores. Seu tapete verde só aparece na estação em que as abelhas voam e se alimentam. Tal imponência é do seu cinza prateado e do seu branco perolado, como uma agulha banhada em mármore.
     A relva é macia. Árvores saem do chão com cascas grossas e firmes. O vento que sopra nas copas das árvores convida o canto dos pássaros para, juntos, fazerem uma orquestra que  nem Bach nem mesmo Chopin conseguiriam compor. O espelho d'água na superfície do lago reflete o grande céu azul e a gigantesca agulha prateada.
     O cheiro desse paraíso é engrandecido pelas cores das flores; o gosto, enriquecido pelo aroma da relva. A paz é proporcional à euforia de se deitar em sua grama. Uma força gigante e serena sublima uma felicidade pueril devido às sensações ali despertadas. Quando essa grande agulha perfura o coração de quem a vê, produz-se uma sinestesia sem igual.


Calmaria
Rodrigo de Souza

      Um local calmo. Não em total silêncio, mas com pouco barulho. Uma árvore cai próxima a um lago, sem tocá-lo. Alguns pássaros se agitam, porém, sem muita bagunça, mudam de casa.
     Distante, contudo ao alcance da visão, lindas montanhas rochosas contemplam a densa floresta que rodeia o lago. Vontade de chegar ao lago talvez tenham. Mesmo assim continuam firmes e imóveis, como soldados em forma. A neve fofa que as cobre é um pouco mais atrevida e corre para o sopé da montanha, tentando alcançar o lago. O declive termina e são impedidas de terminar seu plano.
      Um vento suave e frio agita as folhas das árvores. Outra árvore cai, já cansada pelos anos, fazendo um enorme barulho e trazendo alguma agitação para essa calmaria. Agora uma grande revoada de pássaros coloridos faz uma bela festa no céu.
     Enquanto muitos tentam alcançá-lo, o lago, lá de baixo, assiste a tudo. Sua face de um azul profundo é apenas tocada por um pequeno pássaro que, sem parecer se importar, toma banho à beira do lago enquanto sente o doce perfume das rosas a sua volta.


Banquete de sensações ao pé da montanha
Ramon Pedro dos Santos Denoá

       Após sucessivas postergações aos convites feitos por meu primo para passarmos um fim de semana em família na sua casa de inverno, finalmente subjugado pelo estresse caótico de uma rotina intensa, resolvi aventurar-me por este local que seria uma fonte ampla de alívio.
     Logo pela manhã, os primeiros raios de sol, tênues e tímidos, tocam a pele gélida na tentativa efêmera de aquecê-la ao passo que o modesto vento juvenil balança levemente a copa dos altos eucaliptos, trazendo em si todo o frescor de uma vegetação pacífica e acolhedora.
     A paisagem da velha montanha gelada e imponente destaca-se no verde vibrante da floresta e, juntas, parecem dançar ao som de uma arrebatadora sinfonia regida com maestria pelos pequenos pássaros ali presentes. Ao mesmo tempo, um extenso espelho enigmático reproduz com exatidão os passos dessa sublime valsa.
    Todo esse clima de paz e tranquilidade, dificilmente encontrado hodiernamente nos grandes centros urbanos, invade nossas narinas e nos submete aos recônditos de nossa consciência, ao passo que a relva cerrada nos abraça e sela a pureza desse raro momento de prazer.


Paraíso inexplorado
Rafael Moreira Pinheiro

     Escondidos no meio da floresta, afastados de toda a escuridão das grandes cidades, vivem grandes soldados em um lugar cheio de luz e esperança.
      Uma brisa suave sopra a montanha, carregando um ar frio e doce que sai de sua manta branca e aveludada. A montanha, imponente, observa com paciência sua tropa verde na posição de sentido. A montanha é adorada por todos, e todos estão voltados para ela.
       Querendo ser como a montanha, o lago copia, com seus grandes quadros serenos, tudo o que vê. Numa grande demonstração de afeto, reflete, em suas pinturas, a imensidão de seus companheiros. Levando o céu à terra e a montanha ao chão, mostra toda a sua habilidade com pinturas invertidas.
      Abrigados entre os soldados, lá se encontram todos os animais desse refúgio iluminado. Seus sons, barulhos e ruídos mais parecem uma sinfonia, que alegra todo o lugar. Limpando o solo e levando alimento às árvores, os animais fazem mais do que música: mantêm vivo o paraíso.