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Paul Braterman |
Prof. Braterman possui os diplomas de MA (1st cl. Hons), DPhil, DSc da University of Oxford, e passou sua carreira profissional na University of Glasgow e na University of North Texas, onde atuou como professor regente. No período em que esteve no Texas, entrou em contato com o criacionismo bíblico e observou seu impacto corrosivo sobre a educação científica. Trabalhou em questões de química relacionadas às origens da vida e às condições da Terra em suas origens e trabalha como consultor do Instituto de Astrobiologia da NASA. Atualmente é membro da comissão do British Centre for Science Education, cuja missão, em grande parte, é resistir à infiltração criacionista.
No texto a seguir, ele responde em
nome da National Secular Society do Reino Unido, organização sem
fins político-partidários com membros de todo o espectro social e
político. Entre os sócios honorários dessa instituição estão
incluídos Membros do Parlamento e seus pares, bem como as mais
destacadas figuras da política, do jornalismo, do direito e das
artes.
Evolução é ciência verdadeira;
criacionismo é vã filosofia
Uma resposta para "O
Evolucionismo e o Criacionismo à luz do Método Científico"
(Tradução: Carlos Alberto Babboni)
A
Evolução não é uma cosmovisão opcional, mas uma teoria
científica fundamental e uma das teorias científicas mais
bem-sucedidas de todos os tempos.O Criacionismo bíblico também não
é uma cosmovisão, mas um conjunto de crenças factualmente erradas
a respeito do mundo e da Bíblia.
O Professor Vieira argumenta que a teoria atual da evolução e o
criacionismo bíblico não são, na verdade, teorias rivais, mas
representações de diferentes cosmovisões não testáveis, e que a
diferença entre eles é mais filosófica do que científica. Ele
está errado em todos os aspectos. A evolução é uma teoria
científica, não apenas sobre o passado, mas também sobre os
processos operacionais e observáveis no presente. A Evolução fez
várias previsões bem-sucedidas e passou por muitos testes
experimentais difíceis. Ela explica fatos que não poderiam nem
mesmo ter sido imaginados quando, há 150 anos, a teoria foi
apresentada em sua forma moderna. A história da criação do Gênesis
pode ser testada através da observação, e [vê-se que é] falível.
Faz declarações contrárias a fatos conhecidos, de modo que,
independente da sua grande importância para nós, não podemos
considerá-la como uma narrativa histórica exata.
O
Professor Vieira afirma que não há nenhuma evidência científica
para a evolução. Ele está errado. Dois excelentes livros que
apresentam essa evidência, ambos disponíveis em Português, são A História De Quando Éramos Peixes, por Neil Shubin, e A Evidência da Evolução: porque é que Darwin tinha razão, da
autoria de seu colega na Universidade de Chicago, Jerry Coyne. Há
também um excelente site on-line, com centenas de
referências à literatura primária, resumindo os principais
argumentos; além disso novas descobertas que sustentam e ilustram o fato da
evolução são relatadas todos os dias.
O livro
de Shubin começa com um belo exemplo de evolução como uma teoria
prognóstica. As rochas devonianas inferiores não contêm
vertebrados terrestres. As rochas devonianas superiores contêm
muitos. Portanto, a evolução prevê que deve haver evidência
fóssil para formas intermediárias em alguma parte no período
devoniano médio. Os primeiros vertebrados terrestres conhecidos são
anfíbios, o que teria exigido a existência de água doce, e esse e
outros argumentos detalhados sugeriram que as rochas com cerca de 375
milhões de anos, formadas em deltas de rios, seriam o melhor lugar
para procurá-la (evidência fóssil). O professor Shubin e seus
colegas montaram uma expedição a um local no Ártico canadense,
onde tais rochas estavam expostas, e descobriram a forma
intermediária prevista: um peixe com um pulso, o que eles chamaram
Tiktaalik. Observe que, se essas rochas tivessem mostrado uma
transição repentina sem intermediários, ou se elas estivessem
cheias de coelhos, dinossauros, ou ossos de frango frito, isso teria
refutado o relato evolutivo.
O livro
de Coyne estabelece com muita clareza os fatos que são explicados
pela evolução, todos eles exemplos de "evidências palpáveis"
em prol da evolução, “que possam ser submetidas ao escrutínio do
Método Científico”, cuja existência o erudito professor nega.
Estas incluem: (a) a forma como as coisas vivas podem ser organizadas
em famílias com base em sua anatomia, (b) abundantes formas fósseis
(das quais Tiktaalik é um exemplo) mostrando como categorias
biológicas diferentes são descendentes de um ancestral comum, (c)
nosso conhecimento sobre como novas espécies surgem (o professor
Coyne também é um dos autores do livro Speciation, mais
técnico), (d) as árvores genealógicas deduzidas a partir de
evidências de DNA, (e) o fato de que esses três métodos
independentes - relação anatômica, registro de fósseis, e
comparação de DNA – dão a mesma árvore, ou melhor, ramificação
do arbusto, da vida, e (f) os exemplos de evolução que vemos ao
nosso redor. Além disso, (g), podemos realizar e realizamos
experimentos de laboratório que demonstram e elucidam a evolução,
e (h) toda a reprodução vegetal e animal consiste em processos
evolutivos atrelados aos nossos desejos, com a seleção artificial
substituindo a seleção natural.
O
professor Vieira apresenta dois tipos de justificativa para a sua
afirmação de que a evolução não é ciência. Um deles é o fato
de que ela não explica a origem da vida, do sistema solar, ou do
universo. Mas isso não é um argumento real. A teoria atômica não
explica a origem dos átomos, do sistema solar, ou do universo, mas
ninguém duvida de que é uma teoria científica. A outra
justificativa é que a evolução não explica a transformação das
espécies do nível de Ordem para o nível de Família na Taxonomia
Biológica aceita modernamente. Como vimos, isso não é verdade. O
livro de Shubin, por exemplo, faz um relato muito claro da origem da
transformação de peixes para anfíbios, e o livro A Beirad'Água, Macroevolução e a Transformação da Vida, de Carl
Zimmer, descreve a transformação de mamíferos terrestres para
baleias. Mas, mesmo se fosse verdade, a teoria não deve ser
rejeitada apenas porque há coisas que ainda não podemos explicar.
Perguntas não respondidas são tão essenciais para todos os tipos
de ciência como respostas inquestionáveis são para alguns tipos de
religião.
Quanto
ao Criacionismo bíblico, este faz algumas reivindicações muito
precisas e verificáveis. Ele afirma, por exemplo, (Gênesis 1:20 -
25), que os pássaros e baleias foram criados antes dos animais
terrestres. Agora sabemos que as aves são descendentes dos
dinossauros terrestres e que as baleias (artigo de revisão grátisaqui, e também o livro de Carl Zimmer mencionado acima) são
descendentes de mamíferos terrestres. Portanto, temos de inferir
que, se, como o professor Vieira acredita, Deus é responsável pelo
conteúdo de Gênesis 1, Ele não tinha a intenção de que fosse
usado como um livro de biologia. Observo, de passagem, que muitos
cristãos, incluindo católicos, episcopais e metodistas, não têm
nenhum problema com o fato da evolução e que somente os grupos
evangélicos extremos, como adventistas do sétimo dia, ao qual o oprofessor Vieira pertence, consideram o Gênesis como um registro
histórico literal.
Finalmente,
isso tudo importa? Sim, para o passado do Brasil, presente e futuro.
Em relação ao passado, a riqueza mineral do Brasil só pode ser
entendida usando a ciência verdadeira, incluindo a evolução e sua
companheira, a geoquímica de eras remotas. Por exemplo, as formações
com camadas de ferro do Quadrilátero Ferrífero em Minas Gerais
devem sua existência à liberação de oxigênio pela fotossíntese
de bactérias há mais de dois bilhões de anos, e o petróleo e o
gás da plataforma continental foram formados pela decomposição de
organismos antigos no período cretáceo. O presente inclui a
responsabilidade de gerir a bacia amazônica, algo que só pode ser
feito com sabedoria, respeitando-se as relações evoluídas entre
suas muitas espécies. E todos nós precisaremos de ciência real, e
um reconhecimento da realidade científica, uma vez que a humanidade
enfrenta seu futuro preocupante e instável.
Paul S. Braterman,
Professor Emeritus, University of North Texas
Honorary Senior Research Fellow in Chemistry, University of Glasgow
48 Nith Street, Glasgow G33 2AF, Scotland, UK
Honorary Senior Research Fellow in Chemistry, University of Glasgow
48 Nith Street, Glasgow G33 2AF, Scotland, UK
@paulbraterman http://paulbraterman. wordpress.com/
My first non-technical book, From Stars to Stalagmites, http://www.rsc. org/chemistryworld/2012/11/ stars-stalagmites-everything- connects
Support British Centre for Science Education (BCSE)