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Tema
1: O
torcedor fanático se dirigia para o estádio de futebol.
O
gigante "viking"
Marcelo Ferreira de Menezes
Marcelo Ferreira de Menezes
Para
o brasileiro o carnaval é a comemoração mais empolgante do ano. É
quando ele coloca sua fantasia e sai pelas ruas numa explosão de bom
humor. Só as finais dos campeonatos de futebol se comparam a esse
momento de euforia e descontração. Em uma das finais do Campeonato Carioca, vi um torcedor que, pela extravagância com que se
vestia e brincava, chamava a atenção de todos.
Acompanhado
de um barulhento grupo de amigos, ele, cantando e gesticulando,
seguia rumo ao estádio. Sua proeminente cabeça se erguia acima das
dos demais e ostentava um prateado e reluzente chapéu “viking”,
adornado por dois gigantescos chifres. Este lhe caía muito bem, já
que esse torcedor tinha um corpo descomunal, típico desses
históricos guerreiros, e usava bigodes ruivos, tão ruivos quanto
sua volumosa cabeleira de fogo. Seus olhos expressavam uma espécie
de fúria que contrastava com as pilhérias atiradas aos membros da
outra torcida, deixando claro seu espírito brincalhão. Com uma
bandeira verde e vermelha lhe servindo de capa, calçava sandálias
de tiras de couro e expunha as pernas brancas como o mármore por
meio da saia escocesa que lhe cobria até os joelhos.
Pulava
o tempo todo, dando murros no ar ou fingindo torcer o pescoço de
algum adversário imaginário, demonstrando a confiança de se sagrar
vencedor naquele dia. Ria muito e, vez por outra, embolava a bandeira
na mãozorra, juntando-a ao peito e fingindo chorar de amor pelo
time. Imediatamente, soltava um forte urro rumo ao céu e, como uma
fera prestes a atacar, cantava o hino de seu time a todo fôlego.
Mesmo com a aparência assustadora, atraía as crianças que, num
misto de assombro e curiosidade, seguiam a mesma direção. Algumas
foram até içadas aos seus ombros e sacudidas com alegria no ar pelo
inquieto e eufórico gigante, que espargia simpatia para todas as
direções.
E
eu que me considerava um torcedor fanático, nesse dia percebi que
nunca passei mesmo de um comportado e tímido menino. Pude ver,
então, com assombro como a emoção e o amor por um time podem
transformar física e psicologicamente uma pessoa. O gigante “viking”
será sempre minha referência do que é ser de verdade fanático por
um time.
Imagem meramente ilustrativa |
Tema
2: Descreva
o rancho dos alunos da (*) durante o almoço num dia de
semana.
O
rancho dos alunos da (*)
Marcelo Ferreira de Menezes
Marcelo Ferreira de Menezes
Ser
aluno da (*) não é uma missão nada fácil. Ao longo de toda a
semana, somos exigidos quase que durante todas as horas do dia nas
mais diversas atividades. Há uma hora, entretanto, que é um
verdadeiro acalento para nosso doído estômago: a hora do almoço,
quando somos recebidos pelo ansiado rancho dos alunos.
Ao
se abrirem as duas enormes portas azuis de madeira, o delicioso aroma
dos saborosos pratos que ali nos aguardam vem nos dar as boas vindas.
O espaço é amplo para abrigar toda a tropa de famintos guerreiros
que ali vêm restaurar as forças. Amplas janelas ladeiam o ambiente,
deixando a luz do meio-dia se espreguiçar nos metais das bandejas e
talheres dispostos sobre as toalhas brancas. Metade da parede é
pintada de cinza, e a metade superior, de branco. A austeridade
dessas cores, contudo, não impede que ali se verifique uma atmosfera
de descontração e satisfação. Em compridos balcões dispostos nos
dois lados do salão, a louça espera com passividade a convocação
para uma guerra que não mata, mas vivifica. Do alto, o brasão dos
especialistas observa tudo com orgulho, como um pai satisfeito com o
apetite dos filhos.
Nas
bacias de alumínio polido, carnes, arroz, feijão, purês, saladas e
massas atraem o aluno com suas serpentes fumegantes. As jarras de
suco, gordas como as velhas "mamas"
italianas, deixam à mostra, pela intumescência transparente de seu
bojo, os saborosos sucos de tangerina, goiaba, abacaxi e caju. Nesses
dois conjuntos, os guerreiros matam com gosto duas irmãs
indesejáveis que até então os fustigavam: a fome e a sede. O som
que predomina no ambiente é o de metal chocando-se com o fundo do
prato e, multiplicado por dezenas, faz lembrar o tilintar de um
garimpo. Há ainda o balcão de sobremesas; apenas um capricho, já
que, quando vão até ele, os guerreiros já não estão mais
famintos. Melancias, bananas, goiabadas são disputadas junto com os
astros principais: os bolos e os sorvetes.
Ao
término desse momento, as mesas exibem exaustas as marcas de um
verdadeiro campo de batalha: ossos cobertos de alguns farrapos de
carne, restos de grãos esfacelados, guardanapos maculados pela
gordura dos molhos, a sangria dos sucos involuntariamente derramados
ao longo das toalhas. Marcas de uma guerra que nunca é de todo
vencida e, dia após dia, vai se renovar nesse ambiente de aconchego
e de fruição dos sentidos: o rancho dos alunos.
* Refere-se à omissão do nome da instituição militar sugerida na proposta.
Tema
3: Quando
os aventureiros chegaram àquela ilha, sentiram um intenso arrepio. A
paisagem era assustadora.
A
Ilha da Caveira
Marcelo Ferreira de Menezes
Marcelo Ferreira de Menezes
A
tripulação do Dragão dos Mares já estava à beira da loucura.
Cinco meses tendo como visão apenas o silêncio do oceano era mesmo
de enlouquecer qualquer um. Aliás, fora a própria loucura que os
levara até ali: o cobiçado tesouro da Ilha da Caveira. O mapa dizia
que já
estariam perto de seu destino. Com efeito, naquele dia desembarcaram
na misteriosa ilha.
Era
manhã ainda, mas uma bruma densa e cinza envolvia o macabro cenário,
fazendo parecer que a noite já se instalara. Ao vencerem essa bruma,
os aventureiros se depararam com imensos e negros rochedos em forma
de terríveis criaturas abismais. Havia, ao longo de toda a praia,
coqueiros mortos que se assemelhavam a mãos cadavéricas prestes a
tomar suas vidas. A areia era uma mistura pegajosa de lama
avermelhada e ossos de todos os tamanhos, e assim o era em função
de inúmeros cadáveres em putrefação que ali jaziam. Tal era o
estado desses corpos, que já não era possível se dizer a que
organismos tinham pertencido. Uma serra intimidante e de vegetação
espessa era recortada num céu tristemente roxo. O cume dessa serra
cuspia, numa gargalha atroz e furiosa, o magma da terra, como se as
entranhas da ilha estivessem se revirando.
Cavernas
para todos os lados alertavam que não valeria a pena procurar o baú
com o tesouro. Frente a cada uma das entradas, corpos humanos
decapitados estavam empalados em estacas monumentais. Todos os
crânios que então foram apartados dos corpos aos quais pertenciam
formavam um muro de quilômetros de comprimento. Tal muro parecia
percorrer a ilha em toda a sua extensão, já que essa imagem se
perdia no horizonte para o qual se estendia. Não chegaram a ver os
habitantes desse horroroso lugar. Mas, de algum ponto escondido no
meio da floresta que avançava rumo ao vulcão, puderam ouvir um
canto fantasmagórico e hipnotizador, ritmado por tambores que soavam
como verdadeiros trovões. Eram talvez milhares de vozes de tal
maneira enlouquecidas, que os aventureiros foram curados
imediatamente da insanidade em ali terem ido parar.
A
volta para casa não seria rápida. Levariam mais três meses,
seguindo a rota certa à saudosa terra da qual partiram. Mesmo assim,
o oceano não mais lhes oferecia medo. Pelo contrário, a paz e o
silêncio daquelas águas salgadas eram agora motivo para acreditar
que estavam seguros. E, para que tivessem certeza de que nenhum outro
ser humano tentaria novamente tal loucura, queimaram o mapa que um
dia os levou até Ilha da Caveira.