Capitão Aza, de A a Z - Em 04/08/14



... Alô, alô, Sumaré! Alô, alô, Embratel! Alô, alô, Intelsat 3! Alô, alô, criançada do meu Brasil! Aqui quem fala é o Capitão Aza, Comandante e chefe das Forças Armadas infantis deste Brasil!

Durante treze anos, todas as tardes de segunda a sexta-feira, a partir desse chamado, bolas, carrinhos, pipas e bonecas eram deixados de lado imediatamente; atendendo a essa convocação, todas as crianças corriam para a frente da televisão para ouvir as orientações de seu Comandante e para assistir aos desenhos de Speed Racer, por exemplo, o campeão de audiência. O Clube do Capitão Aza estreou na TV Tupi em setembro de 1966. Mas a história do homem por detrás do personagem que leva muitos quarentões às lágrimas quando expostos às imagens ou às músicas do primeiro ídolo infantil de nosso país começou muito antes.
Sua saga se inicia em verdade na construção de sua carreira como homem da lei. Sim, homem da lei (e todo herói não o é?), já que acabou por se constituir Delegado da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, função que desempenhou de 1970 até 1991, quando então se aposentou, após quarenta anos de serviço prestados a essa instituição.
E, ao empregarmos a palavra herói não estamos nos referindo apenas ao mundo da ficção, pois, como membro da Polícia Especial, ainda bem jovem, antes de se lançar às artes cênicas, sendo responsável pela segurança de ninguém menos que o Presidente da República, Wilson literalmente salvou Getúlio Vargas de um atentado que poderia ter sido fatal. Sua singular e extraordinária história prossegue na luta por se estabelecer como ator de cinema no Brasil e no exterior, passando, é claro, pela inacreditável viagem feita até o México a bordo de uma Kombi, viagem que por sinal começou com o desafio de ser cumprida inicialmente de um modo bastante insólito.
Como você pode ver, há muito mais além do "A" alado gravado naquele capacete branco, ou teria sido cor-de-abóbora? Já vamos saber!


A infância

O menino Wilson Vianna nasceu em Ipanema, no Rio de Janeiro, e passou a infância em Jacarepaguá. Filho de Ruth Vasconcelos Vianna, corista do Teatro Municipal, e de Eduardo Lopes Vianna, advogado não formado, aproximou-se da vida artística por influência de seu irmão mais velho, Wallace Vianna, ator de teatro, que chegou a contracenar com Bibi Ferreira e a trabalhar com Procópio Ferreira e que mais tarde desistiu da carreira para se dedicar à música.
Entre as brincadeiras, o estudo e fartas leituras de gibis como Mandrake, Brucutu e Dick Tracy, Wilson foi acalentando o sonho de se tornar ator de cinema, o que, de fato, acabou acontecendo até mais cedo do que ele imaginava. Mas, antes, confira como foi sua entrada para a Polícia Especial, mal tendo saído da adolescência.


No meio do caminho, uma pedra

Wilson na Polícia Especial
 
No ano de 1949, seu primo Austo Belini, policial-motociclista da guarda do Presidente Getúlio Vargas, e um dos atores do filme Ganga Bruta, levou-o para a Polícia Especial; ela era responsável pela segurança do chefe de Estado. Dessa época veio o gosto de Wilson por motocicletas e a habilidade de fazer acrobacias em cima delas, como uma pirâmide humana com dezenove homens. Por sua destreza, foi convidado a integrar a equipe de batedores do Presidente, função que representaria um grande desafio para qualquer pessoa, quanto mais para um rapaz de apenas dezoito anos. 
 
Uma vez admitido na Polícia Especial, Wilson passou a acompanhar de perto o estadista e foi responsável por um ato de verdadeiro heroísmo, o qual já mencionamos anteriormente, ao evitar um suposto atentado contra Getúlio Vargas, em Petrópolis (RJ), livrando-o do golpe certeiro de uma enorme pedra que rolava em sua direção. Em suas memórias, registradas no livro de Dora Mendonça, A trepidante vida de Wilson Vianna, o Capitão Aza, no qual nos baseamos para esta pesquisa, o ator conta que o gesto brusco feito em direção a Vargas para protegê-lo quase fez com que Gregório Fortunato, segurança particular do Presidente, o alvejasse com um tiro; Gregório pensou se tratar de uma agressão, mas o equívoco logo se desfez com o abraço efusivo que Vargas lhe deu pelo gesto heroico.


Luz, câmera, ação!

Seu porte atlético, a altura (1,80) e o rosto viril, apesar de bastante jovem ainda, atraíram a atenção do diretor de cinema José Carlos Burle, que o convidou, no início dos anos 50, para atuar no filme Barnabé, tu és meu, estrelado por Oscarito, Grande Otelo, José Lewgoy, Wilson Grey e Maurício do Vale. Deu-se assim sua entrada para o universo cinematográfico, justamente através da maior produtora da época, a Atlântida.
Alguns filmes mais tarde, evidentemente a carreira na Polícia Especial teve de ser interrompida. Fez vários filmes com o renomado diretor José Carlos Manga, entre eles Matar ou correr, ao lado de José Lewgoy e Wilson Grey, filme que satirizava o americano Matar ou morrer, estrelado por Gary Cooper. Trabalhou ainda para os estúdios da Vera Cruz e para a Universal Pictures.

Cena do filme Baru, rodado no México, protagonizado por Wilson.
Contabilizou ao todo 63 filmes, 43 dos quais no Brasil, porque nosso homenageado chegou a desfrutar de certa notoriedade internacional, na Costa Oeste dos Estados Unidos e no México, onde atuou em vários filmes, protagonizando inclusive um em que vivia uma espécie de Tarzan latino, o Baru. O personagem atingiu grande popularidade entre os mexicanos e, em filmes como Baru, o Homem da Selva e O Mundo Selvagem de Baru, Wilson chegou a contracenar com a Miss México de 1958. Nesse país viveu durante três anos, 57, 58 e 59, trabalhou em oito filmes, participou de muitos programas de televisão, apresentou um programa de rádio e fez shows em casas noturnas. Retornou ao Brasil no início de 1960.


Pioneiro da dublagem

De volta ao solo pátrio, a convite de Adolfo de La Riva, amigo seu desde os tempos no México e diretor da empresa de dublagens Rivaton, Wilson assume a direção da Zivi-International Television Programs, braço brasileiro da Rivaton, e contribui para a implantação da técnica de dublagem cinematográfica no Brasil, que ainda não a utilizava, inaugurando um novo campo de trabalho técnico-artístico. Nessa empresa, Wilson dublou mais de três mil filmes e séries, tendo sido parceiro de trabalho do grande ator Mário Lago. Entre as várias dublagens que fez, destacam-se as dos seriados Bonanza, Bat Masterson, O homem do espaço, Aventura submarina e Patrulha Rodoviária.


¡Volver a Mexico!

Chegada ao México, após um ano de viagem.

Mas o México ainda voltaria a aparecer na vida daquele que seria eternizado como Capitão Aza. Isso porque em 1961 o chefe do Setor de Certames da Secretaria de Turismo do Estado da Guanabara (como então era chamado o Rio de Janeiro), Celso Azambuja, no intuito de promover a comemoração dos quatrocentos anos do Rio, fez-lhe a seguinte proposta: ir até a cidade do México, onde já era famoso por causa de Baru; só que a viagem teria de ser feita a cavalo! Wilson aceitou o desafio, e toda a empreitada está devidamente relatada no livro já citado de Dora Mendonça. Apesar dos extremos riscos, ele completou sim a viagem, só que de Kombi, façanha que, convenhamos, mesmo hoje, com as facilidades do celular e do GPS, já apresentaria desafios de sobra.
Para quem ainda acha que uma Kombi facilitou as coisas, bastaria saber que a caravana se inciou a cavalo mesmo. Wilson, na companhia do comediante Jaime Filho e de um soldado da Polícia Militar, saiu de Copacabana no dia 28 de outubro. No dia 24 de dezembro, depois de muitos percalços, alcançaram São Paulo, perfazendo uma média de 15 a 20 quilômetros por dia. Somente ao chegar em Curitiba, já sem os dois companheiros do início da jornada, que haviam desistido, é que Wilson, cansado e preocupado com a condição dos cavalos, tomou a decisão de completar a viagem de outra maneira. 
  
Com Pelé e o companheiro de viagem Luiz Montoro, em São Paulo.

         Com o apoio da Volkswagen de São Bernardo do Campo, que lhe cedeu uma Kombi autenticamente alemã, o ator, ao lado de um novo companheiro de viagem, Luizinho Montoro, deu prosseguimento à aventura, que, de forma alguma, foi mais leve por causa do veículo. Wilson não tinha patrocínio em dinheiro e teve de fazer, para sobreviver, nas cidades pelas quais passava, pequenas apresentações, onde conseguia fundos para alimentação, manutenção da perua e gasolina.
Depois de cruzar os países Argentina, Chile, Peru, Equador, Colômbia, Costa Rica, Nicarágua, Honduras e Guatemala, de enfrentar o calor de 50° do Deserto de Atacama, o frio de Macchu Pichu, de quase ser morto por bandoleiros colombianos e de permanecer cinco dias com a Kombi atolada no rio Ceibo em solo costarriquenho, Wilson e seu companheiro chegam finalmente à cidade do México, onde foram recebidos com banda de música até. A aventura de incríveis 18.200 Km, concluída em dezembro de 1962, um ano após seu início, ganhou amplo destaque da imprensa daquele país. 
 

Um brasileiro em Hollywood

Depois da jornada ao México, Wilson Vianna seguiu para os Estados Unidos ainda para tentar a carreira no cinema, apostando no fato de já ter feito alguns filmes pela Universal Internacional, como O Monstro de Curuçu (The Curuçu Monster of the Amazons) e Amantes Cativos das Amazonas (The Love Slaves of the Amazons). Mas o fato de ser estrangeiro não lhe foi propício, e o ator passou os anos de 1963 e 1964 se sustentando em funções como guia de cego, baby sitter, frentista de posto de gasolina, lavador de carros, ajudante de caminhão e estivador.
Contrariando as expectativas, a chance de atuar no cinema internacional finalmente lhe chegou pelas mãos de Anne Glen, secretária de Samuel Goldwin, presidente da Metro Goldwin-Mayer. Segundo Wilson, o próprio Samuel teria sido quem lhe destinou um papel em The Great History Ever Told (A História Jamais Contada), filme em que também trabalharam Sal Mineo, Telly Savallas (que veio a se consagrar mais tarde no famoso papel do detetive Kojak no seriado de mesmo nome) e Maximilian Schell.
Com o estouro da Guerra do Vietnã, Wilson, aconselhado por Anne a deixar o país a fim de que não acabasse sendo convocado pelo exército americano, volta para o Brasil, perdendo a chance de atuar em uma série televisiva que veio a obter muito sucesso, Combate, já que a mesma Anne havia garantido para ele uma participação.


O Delegado Vianna

Leonel e Neuza Brizola, visitando a Divisão de Segurança e Prorteção ao Menor.

Com o retorno, em 1966, Wilson retoma o curso de Direito na Universidade Gama Filho, trancado desde 1961, formando-se finalmente em 1970, período em que já integrava o elenco da TV Rio e já não mais atuava em cinema. Nessa mesma época, entrou para os quadros da Polícia Civil, tendo sido lotado no Comissariado de Cantagalo, no Rio.
Em 1983, destacou-se como Diretor de Ressocialização da Penitenciária Milton Dias Moreira ao introduzir nessa instituição o teatro como alternativa ressocializante. O sucesso de seu método lhe valeu a indicação para assumir a direção da Divisão de Vigilância, Segurança e Proteção ao Menor. Nesse cargo, lutou efetivamente para a melhoria das condições no tratamento aos menores infratores: buscando apoio de empresários como Arthur Sendas, conseguiu camas novas; com donos de renomados restaurantes da Zona Sul carioca, garantiu alimentação de qualidade aos internos; ao retirar todas as grades, transformou celas em alojamentos.
Wilson Vianna já era então o Capitão Aza, conhecido nacionalmente e adorado pelas crianças de todo o país. Por sugestão de um amigo, candidatou-se a Deputado Estadual, mas perdeu a eleição. Como se matriculara com seu nome verdadeiro, e não com o do personagem, os votos em nome deste último não puderam ser computados.


Nas asas do Aza

 
Pouca gente sabe, mas o título de Capitão já lhe havia sido "outorgado" antes de Wilson se transformar no Capitão Aza. É que, em 1965, na TV Rio, Wilson havia protagonizado um programa chamado As Aventuras do Capitão Atlas e Seu Fiel Amigo, o Índio Chico. O programa teve vida bem curta, menos de um ano, e em 1966, a convite da TV Tupi, que queria desbancar a audiência de outro Capitão, o Furacão (vivido pelo ator Pietro Mario), atração também infantil, exibida pela Rede Globo, Wilson Vianna vestiu, pela primeira vez, o traje aeronáutico com o capacete branco alado e óculos de lentes negras, que somente seriam aposentados em 1979. Para pôr fim à dúvida de alguns parágrafos acima: o capacete foi branco, enquanto as transmissões foram em preto e branco, mas, com a chegada da TV em cores, pintaram-no de cor-de-abóbora, talvez para destacar o apresentador do restante do cenário.

Capitão Furacão; Pietro Mario e Elizângela.
 
Gravado no Rio inicialmente, a partir de 1974 em São Paulo e novamente no Rio, nos estúdios da TV Tupi, no antigo Cassino da Urca, o programa chegou a marcar 22 pontos no Ibope contra 11 do da TV Globo (Capitão Furacão) e literalmente tirou do ar o concorrente, alçando Wilson à condição de ídolo infantil, o primeiro da história da televisão brasileira.
O personagem Capitão Aza é uma criação conjunta entre os dramaturgos Paulo Pontes e Oduvaldo Vianna Filho (o Vianinha), e o nome Aza grafado com z seria uma homenagem a um oficial da FAB que lutou na Segunda Guerra Mundial, o Capitão Adalberto Azambuja.
Segundo informações do  site do Instituto de Artes Darci Campioti, os dois dramaturgos foram procurar o Ministério da Aeronáutica a fim de pesquisarem dados para a criação do personagem. Foram atendidos e instruídos pelo então Chefe das Relações Públicas da Aeronáutica, o Coronel Fischer. O militar manifestou desejo de ver um personagem que representasse a aviação, ideia bastante interessante, já que, na Globo, o Capitão Furacão se baseava na figura de um "velho lobo do mar", o que evidentemente remetia à Marinha. Fischer disponibilizou os dados sobre os combatentes da FAB, e a história do Capitão Azambuja logo impressionou a todos: realizando manobras arriscadas a fim de distrair o inimigo e para evitar que seus companheiros fossem abatidos, o aviador sacrificou a sua própria vida.
Além de participar desse momento de criação da personagem, a Aeronáutica teve papel preponderante na decolagem da audiência do Clube do Capitão Aza: ela fornecia consultoria técnica, uniformes, helicópteros e aviões. Tanto que, no auge do programa, o Capitão Aza, todos os domingos, levava trinta crianças acometidas por coqueluche para voar num avião Avro da FAB que decolava do Aeroporto Santos Dumont. Voar era considerado uma terapia para as crianças com essa doença.

Capitão Aza, no comando de sua "nave".

Ao som da bela canção Sideral, composta por Tibério Gaspar e Durval Ferreira, O Clube do Capitão Aza, que inicialmente se chamou As Aventuras do Capitão Aza, iniciava, com Wilson simulando estar pilotando uma nave espacial. Tudo muito simples, mas a imaginação das crianças da época se encarregava do restante. Tanto que a própria Xuxa, a Rainha dos Baixinhos, sua fã confessa, revelou ao ator, anos mais tarde, ter se inspirado no programa para criar o seu, que não por coincidência começava com a apresentadora saindo de uma nave colorida e terminava com a moça embarcando novamente nela. 

 
Cantando e aprendendo

Capitão Aza e Martinha.
 
Em 1968, o programa promoveu o concurso O cantor mirim da Guanabara e a escolhida foi aquela que se transformou na fiel escudeira do Capitão: a menina Martinha, de apenas sete anos e voz afinada. Os dois dividiam o espaço do programa ainda com os personagens Robô (Hilton Aby Rhian) e o boneco Pedroca (dublado por Américo Bittar), que fazia o quadro Quem pergunta quer saber.
Capítão Aza e Martinha gravaram vários discos, sempre com canções de cunho educativo, como ABC, um hit entre a criançada da época e que lhe valeu um troféu da Secretaria de Educação do Estado da Guanabara, Somando com vocês e Se você quer ser alguém (Swinging on a star), esta última em que transmite lições de boas maneiras, higiene, educação e dedicação aos estudos, temas estranhos hoje em dia, não?



Além de exibir desenhos animados, já citados no início da postagem, e realizar promoções em que sorteava brindes, brinquedos e cadernetas de poupança, o Capitão Aza chegou a promover um concurso escolar em parceria com a Marinha, cujo prêmio foi uma viagem de navio a Manaus, e na companhia do ídolo, responsabilidade que Wilson saberia cumprir com zelo e atenção rigorosos. Depois de analisarem 14 mil trabalhos, vinte crianças foram selecionadas (dez meninos e dez meninas) e partiram rumo à capital do Amazonas.

Ir aonde o povo está

O carinho com os fãs.

O grau de respeito e carinho por seu público foi demonstrado pelo contato estreito que Wilson efetivamente manteve com os pequenos fãs, em constantes visitas que o Capitão Aza fazia às escolas públicas; ao longo dos 13 anos em que esteve no ar, visitou cem escolas por ano. Nessas ocasiões fazia questão de levar consigo um policial militar, um marinheiro, um bombeiro e um ex-oficial da Força Expedicionária Brasileira (FEB), buscando fortalecer nas crianças a noção de civismo e se antecipando a possíveis acusações de ser ele apenas um garoto-propaganda de heróis americanos de tinta e papel. "Já que eu apresentava em meu programa heróis fictícios como o Homem Aranha, o Hulk, Ultra-Man, eu queria também que as crianças conhecessem os nossos heróis vivos", disse o ator em sua biografia.

O reconhecimento oficial

Wilson, sendo condecorado como Comendador da FAB.
Nas comemorações militares, como as do 7 de Setembro, Wilson Vianna participava dos desfiles com sua imponente Harley Davidson, e esse estreitamento com as Forças Armadas em um período conturbado de nossa história talvez tenha lhe valido algumas críticas; alguns chegaram a levantar suspeitas sem fundamento de que pertencesse ao Serviço Nacional de Informações, o temido SNI. Tais suspeitas eram corriqueiras por essa época e recaíam invariavelmente em pessoas de projeção na mídia (artistas da televisão e cantores de sucesso), chegando inclusive a arruinar a carreira de um outro Wilson, o Simonal. Contudo não produziram qualquer nódoa na imagem do ídolo infantil. Há que se ter em mente sobretudo que Wilson Vianna era, antes de mais nada, uma autoridade policial, de reputação inconteste, de contribuições relevantes, conforme já vimos, e a serviço da manutenção da ordem social; isso não se confunde com a ficção. 

Contribuição reconhecida pelo Ministério da Aeronáutica.

 
Como, de fato, o Capitão Aza contribuiu, e não só na aparência, na divulgação dos ideais pátrios, das Forças Armadas em geral, da formação do caráter e do civismo, natural que o reconhecimento viesse pelas instituições onde eles são, por assim dizer, normas pétreas. Por isso, Wilson foi agraciado, e com justiça, com a medalha do Mérito de Santos Dummont, concedida pela Aeronáutica Brasileira. Essa é a maior prova de sua influência naquele momento de nosso país, e não se pode duvidar de que muitos jovens tenham ingressado mesmo na Força Aérea por causa do fascínio gerado pelo personagem, uma vez que a própria Aeronáutica reconheceu o fato por meio de documento.

Homengem das Forças Armadas, com o Ministro Nero Moura
Além dessa condecoração, recebeu ainda o diploma de Capitão Benemérito do Estado do Rio de Janeiro por seus serviços em prol da cidadania, conceito tão em voga nos dias de hoje, mas, diga-se, ainda insatisfatoriamente aplicado às ações cotidianas.



Da telinha para os quadrinhos
Capitão Aza, personagem de quadrinhos.

 Um outro fator que demonstra bem o sucesso do personagem é a publicação de quadrinhos que levavam seu nome e contavam as aventuras do herói, empreitada assumida pela revista O Cruzeiro Infantil e cujo roteiro e arte ficaram aos cuidados de Ari Moreira. As aventuras do Capitão Aza circulou de 1973 a 1975.


As Aventuras do Capitão Aza, em O Cruzeiro Infantil.
  
E os amantes da chamada nona arte, as histórias em quadrinhos, ainda têm de pagar um bom tributo ao Clube do Capitão Aza. Explica-se: devido ao grande sucesso dos desenhos da Marvel que eram exibidos no programa, a Editora Bloch conseguiu da Transword Feature Syndicate a autorização para editar as histórias da Marvel Comics no Brasil. Como cada personagem tinha sua própria revista, pela primeira vez, o número de publicações passou para 15 títulos mensais, abrindo de vez o acesso dos leitores brasileiros a esse tipo de arte. Os títulos eram: O Incrível Hulk, Capitão América, Príncipe Namor, Tocha Humana, Homem Aranha, Homem de Ferro, O Demolidor, Os Vingadores, Os Defensores, Thor, Ka-Zar, Mestre do Kung Fu, Motoqueiro Fantasma e Punho de Ferro.



...Capitão Aza falando! Câmbio e desligo!

  
Em 1979 a TV Tupi encerrou suas atividades, vitimada por uma crise financeira que a impedia de cobrir inclusive os salários de seu cast, onde figuravam astros como Bibi Ferreira, J. Silvestre e Abelardo Barbosa, o Chacrinha. Com onze salários vencidos e seis meses antes da última transmissão da emissora, o Capitão Aza se despediu definitivamente de seu público. Em sua última fala, disse que estava partindo em uma missão espacial.
O personagem Capitão Aza voltaria a ser visto ainda no cinema, com as participações nos filmes Atrapalhando a Suate (em 1985, com Dedé Santana, Mussum e Zacarias) e Os Trapalhões e o Mágico de Oroz (em 1986), onde contracenou com Xuxa.

 
Após o término do Clube do Capitão Aza, Wilson Vianna apareceu poucas vezes na televisão. Foram participações especiais nas novelas da Rede Globo As três Marias e Cambalacho. Além desses trabalhos, fez o papel de um capitão (a patente lhe perseguia mesmo) na minissérie A Marquesa de Santos, protagonizada por Maitê Proença e transmitida pela também extinta TV Manchete. Chegou a receber alguns convites de emissoras para seu retorno. A TVS (hoje SBT) por muito pouco não realizou o sonho dos fãs em 1985, mas um enfarte, o segundo que o atingia, encerrou as negociações. Aconselhado por cardiologistas, Wilson Vianna deixou de vez a vida artística para se dedicar à sua pousada em Penedo e viajar pelo mundo. E, mais uma vez, não estamos diante de força de expressão; Wilson conheceu toda a América do Sul, a Europa, foi à Ásia, à Oceania, à África, ao Japão, à China, a Bangkoc, Tailândia, Singapura, entre outros. 

Wilson no Jô Soares Onze e Meia.
Em 3 de maio de 2003, aos 75 anos, no Mato Grosso do Sul, vítima de seu terceiro enfarte, ao lado de sua mulher, filho e nora, Wilson Vianna, o eterno Capitão Aza, "corpo livre no infinito", deixou para trás o mundo aflito e a bomba H; alçou seu voo derradeiro rumo a estrelas e constelações, com destino a permanecer para sempre no espaço da memória e dos corações dos que admiraram a força de seu trabalho e aprenderam com suas orientações e seus exemplos. Mas os homens (ainda) se destroem nas guerras vãs e vão no pó dos sonhos, ah!..., em nome do amor.
   
Informações adicionais:

- Em 1977, apresentou um programa de rádio na Rádio Continental, que se chamou Mesa de Celebridades. Recebeu entre os muitos convidados, o humorista e escritor Jô Soares, que contou como Wilson foi o responsável pelo início de sua carreira artística, levando-o ainda jovem para a TV Tupi.

- Wilson foi casado por duas vezes. Em 21 de fevereiro de 2007, faleceu o filho de seu primeiro casamento Eduardo (Dudu) Vianna, em um acidente de moto ocorrido em 15 de fevereiro do mesmo ano, no túnel Zuzu Angel, na cidade do Rio de Janeiro.

- O Clube do Capitão Aza chegou a receber 14 mil cartas por semana. Ao escrever para o programa, toda criança ganhava uma carteirinha do Clube do Capitão Aza e com ela o direito a assistir a lançamentos de filmes nos cinemas da rede Luis Severiano Ribeiro, obter descontos em livrarias e nas compras de material escolar.

- A famosa chamada que abria o programa (... Alô, alô, Sumaré! Alô, alô, Embratel! Alô, alô, Intelsat 3! Alô, alô, criançada do meu Brasil! Aqui quem fala é o Capitão Aza, Comandante e chefe das Forças Armadas infantis deste Brasil!) foi criada por Alcino Diniz, produtor de cinema e diretor de televisão. Já o "título" Comandante e chefe das Forças Amadas infantis foi dado pelo Presidente Emilio Garrastazu Médici, quando o Capitão Aza levou a Brasília cinco crianças para serem condecoradas pelo Presidente, fruto de uma promoção feita pelo programa, cujo objetivo era apresentar uma dissertação sobre a vida de Duque de Caxias.

- Wilson Vianna entrou para a Maçonaria em 1961 e chegou a atingir o grau 33. Nos Graus Filosóficos do Rito Escocês Antigo e Aceito, o grau 33 recebe o nome de Soberano Grande Inspetor-Geral; já nos do Rito Brasileiro, curiosamente, ele é o Servidor da Ordem da Pátria e da Humanidade.
 
Leia também Palavra de fã, na coluna Mandando uma letra.


Veja o Capitão Aza cantando trechos de suas inesquecíveis canções.

 


Fontes pesquisadas:

Bibliografia:
MENDONÇA, Dora. A vida trepidante de Wilson Vianna, o Capitão Aza.1ª ed. Rio de Janeiro, Editora Lidator, 1997.

Sites acessados:
http://institutodeartesdarcicampioti.blogspot.com.br/2009/03/vamos-aprender-com-o-capitao-aza-parte.html
http://intervalocultural.blogspot.com.br/2014/04/o-eterno-capitao-aza.html
http://meusbrinquedosantigos.blogspot.com.br/2010/11/clube-do-capitao-aza.html
http://nossatvbrasileira.blogspot.com.br/2011/02/o-capitao-aza-e-assim-mesmo-com-z.html
http://mutantexis.wordpress.com/2011/05/11/nas-asas-do-capitao-aza/
http://www.mundonovelas.com.br/2010/10/mundo-crianca-especial-mundo-novelas_11.html
http://oficinadeartejackcartoon.blogspot.com.br/2011_09_01_archive.html
http://infantv.com.br/capitaoaza.htm
http://www.bcc.org.br/fotos/galeria/025243
http://redetupiyestvsempre.blogspot.com.br/2013/04/capitao-aza.html
https://www.youtube.com/watch?v=VToimGA_gRQ
http://lembradesse.blogspot.com.br/2010/10/capitao-aza.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Capit%C3%A3o_AZA
http://oglobo.globo.com/blogs/nostalgia/posts/2007/08/17/capitao-furacao-vivido-pelo-ator-pietro-mario-70063.asp
https://www.youtube.com/embed/ahy3uRzRG9w?showinfo\x3d0
http://desmanipulador.blogspot.com.br/2012/07/capitao-aza-biografia.html