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Corações
roubados
Marcelo
Ferreira de Menezes
Eram cinco horas da
tarde. A chuva fina formava um espelho no pavimento daquele pátio
escolar não de todo deserto. Ele estava ansioso pelo encontro;
esperara por tanto tempo...
De repente, surgiu uma
silhueta saindo por detrás das árvores. Aos poucos foi
tomando forma e revelou uma linda moça, de uns vinte anos. Ela
se aproximou bem devagar.
― Pensei que você
havia me esquecido ― ela se insinuou para perto do menino.
― E... eu? Que isso? ―
ele respondeu um tanto quanto nervoso.
Ambos não podiam
ver, de onde se encontravam, mas estavam sendo observados. E havia
ódio naquele olhar, um desejo insuportável de desfazer
todo o fascínio daquele momento.
― Você sabe o
quanto é especial para mim, não sabe? ― a moça
perguntou.
― É?! ― ele
devolveu acanhado. Eu também acho você muito... bonita.
O menino suava frio e
parecia não saber o que fazer com as mãos, sempre
inquietas, ora dentro dos bolsos da calça, ora alisando os
cabelos, ora enxugando o suor que lhe escorria pela testa.
― Sabe ― ele pensou
ser justo revelar ―, eu nunca tive uma namorada. Eu sou...
― Tímido? ―
ela completou. ― Eu não me importo. Até mesmo por
causa disso é que eu acho você uma gracinha. Esse jeitinho... roubou meu coração.
E ele, que mal se recuperara
do rubor de ter sido chamado de gracinha, ficou quase roxo,
incendiando de calor com a última frase.
― Que tal se nós
saíssemos daqui? Fôssemos para um outro lugar? ―
propôs a jovem.
― Hoje é
domingo... e minha mãe... ― ele começou constrangido
― está me esperando para irmos à ... missa ― e
enterrou os olhos no chão.
― Ah! Vai ser rápido!
Venha, vamos... ― a moça o arrastou pela mão.
― Para onde? ― ele
quis saber com os olhos arregalados.
― Minha casa não
fica muito longe daqui; é bem pertinho. Quero lhe mostrar
algo.
Quem, com ódio
no olhar, observava o casal quis partir num impulso incontido de raiva na
direção deles, mas foi tal gesto interrompido por duas
mãos firmes em seus ombros.
― Ainda não ―
ordenou. Vamos esperar um pouco.
Enquanto a moça e
o menino deixavam o pátio pelo mesmo lugar por onde haviam
entrado, um buraco no muro dos fundos da escola, um homem se
aproximou para recebê-los na calçada. A moça
sorriu para ele. O
menino, surpreso, quis saber:
― Quem é ele?
― Um amigo meu ―
respondeu a moça sorrindo. Você vai gostar dele.
Nesse exato instante um
carro preto em alta velocidade gritou seus pneus no asfalto, em
frente aos três, numa freada brusca, despejando quatro homens
já de armas em punho.
― Parados aí! A
casa caiu! ― ouviu-se a ordem.
Duas mulheres fardadas se
aproximaram e resgataram o assustado menino, enquanto os homens
armados algemaram a moça e o homem recém-chegado.
O menino foi entregue à
pessoa que, havia poucos instantes, observara toda a cena do pátio
com ódio. Os olhos agora eram de ternura misturada a um pavor
que ainda muito recente para ter sido dissipado.
― Meu filho! Que
perigo, meu filho! ― e, virando-se para a moça, agora
algemada ― Cachorra! Assassina! Assassina! ― gritava uma mãe
tomada por emoção e fúria.
― Vamos ver se essa aí é tão sedutora assim mas é com a Justiça! ― disse o delegado, dono do par de mãos que contivera há poucos instantes a angustiada mãe, aproximando-se dos criminosos.
― Vamos ver se essa aí é tão sedutora assim mas é com a Justiça! ― disse o delegado, dono do par de mãos que contivera há poucos instantes a angustiada mãe, aproximando-se dos criminosos.
No dia seguinte, todos os
jornais estampavam a macabra notícia: "Presa quadrilha
internacional de tráfico de órgãos. As vítimas
eram sempre adolescentes".