Descrição de paisagem (Em 08/04/2015)

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          Tema: É final de tarde. Não num lugar qualquer, mas naquele imenso jardim. E não numa época qualquer, mas no outono."
              Descreva esse jardim.


Mulher de fases

Renan Augusto Oliveira de Carvalho


       Corro os olhos por meu imenso jardim e me admiro com a madura beleza que o outono lhe emprega. As estações passam por ele, transmitindo-lhe sempre traços de fêmea. É como mulher que muda, transmuta e melhora.
       O céu azul, repleto de andorinhas sonolentas a revoar de copa em copa, começa a trazer os leves tons acobreados do sol, que, indo dormir por trás da serra, é forçado a deixar aos poucos a companhia agradável desse paraíso. Esses raios de sol iluminam as folhas presas às árvores, então mesclando o verde, o vinho, o vermelho, o laranja e o amarelo. Algumas se pendem dos galhos e descem lentamente até encontrar o chão, como mão de mãe que afaga o pranto filial. No entanto, ao vento parecem resistir fortemente, como quem diz: “Tudo a seu tempo, querido”. A casca das árvores ainda não estão tão secas. Porém, entre uma pancada e outra de chuva, posso ver as “lágrimas” correrem por seus sulcos e brincarem de gangorra com as folhas secas no chão, enquanto alguns arbustos parecem esperar pelo retorno primaveril, como velhas lembranças infantis.
     No pátio central, algumas trepadeiras ainda trazem vivas flores da última estação. Um coração-sangrento e uma dipladênia pigmentam de rosa o pergolado, o caminho de pedras e o chão próximo à fonte. Ao meu lado, é o jasmim-manga quem coroa o banco de madeira em que me sento recostado em seu colo maternal. A água da fonte faz brincar de barco as folhas e as flores em seu leito caídas, afundando, vez por outra, uma com seu riso contido. À porta da cozinha, um pé de primavera esmera sua sempre vistosa florada vermelha, como um charmoso e discreto batom.
      Meu jardim é uma mulher de fases completas. Brotou e aproveitou a infância da primavera. Espalhou ramas e os amores do verão. Hoje colhe os frutos maduros do outono, mas teme a chegada do inverno e sua poda rigorosa. Todavia sabe que, para voltar inteira, ou inteiro, é preciso se deixar cortar.