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Tema: É final de tarde. Não num lugar qualquer, mas naquele imenso jardim. E não numa época qualquer, mas no outono."
Descreva esse jardim.
Mulher
de fases
Renan
Augusto Oliveira de Carvalho
Corro os olhos por meu
imenso jardim e me admiro com a madura beleza que o outono lhe
emprega. As estações passam por ele, transmitindo-lhe sempre traços
de fêmea. É como mulher que muda, transmuta e melhora.
O céu azul, repleto de
andorinhas sonolentas a revoar de copa em copa, começa a trazer os
leves tons acobreados do sol, que, indo dormir por trás da serra, é
forçado a deixar aos poucos a companhia agradável desse paraíso.
Esses raios de sol iluminam as folhas presas às árvores, então
mesclando o verde, o vinho, o vermelho, o laranja e o amarelo.
Algumas se pendem dos galhos e descem lentamente até encontrar o
chão, como mão de mãe que afaga o pranto filial. No entanto, ao
vento parecem resistir fortemente, como quem diz: “Tudo a seu
tempo, querido”. A casca das árvores ainda não estão tão secas.
Porém, entre uma pancada e outra de chuva, posso ver as “lágrimas”
correrem por seus sulcos e brincarem de gangorra com as folhas secas
no chão, enquanto alguns arbustos parecem esperar pelo retorno
primaveril, como velhas lembranças infantis.
No pátio central,
algumas trepadeiras ainda trazem vivas flores da última estação.
Um coração-sangrento e uma dipladênia pigmentam de rosa o
pergolado, o caminho de pedras e o chão próximo à fonte. Ao meu
lado, é o jasmim-manga quem coroa o banco de madeira em que me sento
recostado em seu colo maternal. A água da fonte faz brincar de barco
as folhas e as flores em seu leito caídas, afundando, vez por outra,
uma com seu riso contido. À porta da cozinha, um pé de primavera
esmera sua sempre vistosa florada vermelha, como um charmoso e
discreto batom.
Meu jardim é uma mulher
de fases completas. Brotou e aproveitou a infância da primavera.
Espalhou ramas e os amores do verão. Hoje colhe os frutos maduros do
outono, mas teme a chegada do inverno e sua poda rigorosa. Todavia
sabe que, para voltar inteira, ou inteiro, é preciso se deixar
cortar.