Preparando-se para a redação (Em 06/08/15)



Redação para fins de avaliação



A produção textual que se destina a avaliações em processos seletivos se diferencia bastante daquela com propósitos meramente recreativos. Deve-se ter em mente não se tratar mais de um contexto de livre criação, em que a autonomia do redator é total e irrestrita, mas de produzir uma resposta satisfatória a um estímulo dirigido e elaborado por profissionais (a banca examinadora) que anseiam por um determinado resultado, que buscam encontrar um perfil humano específico para uma função profissional qualquer. O(A) candidato(a) que se submete a um processo assim tem de estar preparado(a) para administrar certas tensões que requerem não somente informação e conhecimentos gramaticais básicos consolidados, mas, sobretudo, controle emocional.

Em geral, nos processos de seleção de pessoal promovidos pelas empresas, do(a) candidato(a) é cobrada uma carta de intenções, na qual ele(a) tem de fazer uma breve apresentação e expor os motivos que o(a) levaram a estar naquele momento pleiteando o cargo oferecido. Na maioria dos concursos públicos, a dissertação é o tipo de texto mais recorrente. No entanto, algumas instituições podem também trabalhar com temas descritivos e/ou até narrativos. Portanto, quem quiser obter sucesso nesse momento tem de estar preparado para qualquer situação.


Para que não pairem dúvidas sobre a complexidade de um exame de redação, estas são algumas das tarefas do(a) candidato(a) no exato momento de sua prova:

- Leitura atenta das instruções da banca, identificando

as orientações sobre formalística, se houver (paragrafação, tipo de letra, centralização de título, translineação etc.),
o mínimo e o máximo estipulado de linhas,
o tipo de texto solicitado (descrição, narração, dissertação),
o tempo de duração da prova (Atenção: o candidato deve reservar um tempo hábil para passar o rascunho a limpo, algo em torno de trinta minutos); 
 
- Leitura atenta da proposta, identificando o foco temático e as palavras-chave do texto guia.
- Atenção constante para o emprego da norma culta, esquivando-se do uso de gírias (legal, super, o máximo, balada, na moral, sussa, maneiro, sacada), expressões da oralidade (daí, foi quando, coisa, , poxa) e/ou jargões profissionais (engrenado, bizural, rela, brifado, última forma, padrão, peixe).
- Atenção às normas gramaticais (ortografia, pontuação, regência, acentuação, concordância, etc.);
- Apresentação de letra legível e limpeza da folha de prova, promovendo o correto alinhamento e a devida paragrafação;
- Controle da respiração e da postura, evitando tensões musculares desnecessárias;
- Controle do nível de estresse;
- Controle do tempo de redação do texto;
- Seleção e organização hierarquizada das ideias;
- Escrita, leitura do escrito, reescritura (se necessária), releitura, etc.

Quando alguém trabalha com método, as chances de obtenção de sucesso aumentam consideravelmente, e o resultado invariavelmente exibe as qualidades almejadas em um profissional, independentemente da área de atuação, quais sejam: controle emocional, domínio sobre o tempo, limpeza, organização, aplicação de metodologia eficaz, clareza de expressão, equilíbrio psicológico, domínio das habilidades motoras finas, senso de estética, nível de informação etc. E qual é o propósito disso? Demonstrar que você é um indivíduo preparado para o universo do trabalho. E isso se chama MATURIDADE.

Faz todo o sentido entender a redação de concurso como uma espécie de carta de apresentação pessoal, uma forma sutil de autopropaganda. Sob esse aspecto, é importante ter o cuidado de espalhar sinais positivos a seu respeito ao longo da estrutura textual. Para o realce de tais marcas colabora ainda a exibição clara de valores indubitavelmente prestigiados pela sociedade:
 
- o apreço pela família;
- o respeito aos semelhantes e à vida em geral;
- a repulsa a qualquer tipo de injustiça, mesmo no caso de animais;
- o cuidado com o meio ambiente e com os espaços públicos;
- a tolerância para com as diferenças;
- o respeito à ordem social e às instituições que trabalham por sua garantia;
- a consideração pelo trabalho;
- a admiração pelos ideais estéticos;
- um rigoroso senso de justiça;
- a compreensão do valor do conhecimento científico;
- a relação harmônica, sem excessos, com a tecnologia, etc.

Obviamente, em se tratando de uma apresentação pessoal, convém que você se esforce em exibir o que de melhor contribuiu na formação de seu caráter, não é mesmo? E esteja certo de que, desde que você coloque atenção sobre isso, essas marcas aparecerão de maneira natural. Mas, se você ainda tem dúvidas sobre como aplicar esses conceitos, atente para as dicas que se seguem. Seja qual for o tipo de texto que esteja sendo redigido

1) Norteie sua exposição sempre por princípios científicos, históricos, políticos, jurídicos e éticos; você ainda pode lançar mão do senso comum também, pois ele em geral é pautado pela razoabilidade ou por parâmetros éticos já socialmente consolidados.

2) Nunca justifique seu ponto de vista pela religião; em termos de redação para concursos, argumentos alicerçados por doutrinas religiosas não produzem efeito, pois sua base é a subjetividade. Exemplo: “As cotas raciais deveriam ser abolidas, pois para Deus todos os homens são iguais”, em caso de dissertação. 
 
3) Confira se suas ideias são consonantes com o pensamento de sua época. Quem atualmente, em sã consciência, defenderia que a mulher deve ser submissa ao homem? Que crianças não são inteligentes? Que as doenças são um castigo divino? Que leões, focas, jacarés, pássaros, golfinhos e outros animais foram feitos para a caça esportiva? Ou que castigos físicos são um recurso pedagógico?

4) Cheque se não há em seu texto alguma frase ou período que possa soar de maneira ofensiva a algum grupo social, mesmo que não intencionalmente. Exemplo: “Ninguém pode ser culpado pelo defeito do homossexualismo” ou “Os deficientes físicos necessitam de toda nossa piedade”. 
 
5) Seja crítico, mas não mordaz ou acidamente irônico. Exemplo: “Oras, todos sabem o quanto os políticos brasileiros estão preocupados com o povo e o quão honestos são”, em uma dissertação. A criticidade deve estar presente, mas com elegância. 
 
6) Não permita que vazem em suas frases sinais de estados emocionais alterados (raiva, destempero ou intensa emotividade), principalmente em dissertações, já que o texto dissertativo é uma peça pautada pela sobriedade. Exemplo de inadequação: “Chega desse mar de lama na política! Lugar de político corrupto é na cadeia! Esse bando de miseráveis!”, em uma dissertação. “Que linda era aquela praia! Que céu! Que areia! Eu fiquei tão feliz de ter estado lá!...”, em uma descrição; inserções desse tipo em descrições tornam o texto piegas.

7) Fuja a todo custo de clichês, macetes e frases prontas; os três são meros índices de limitação linguística e/ou informativa. 
 
8) Não se entregue aos exageros, nem conceituais, nem vocabulares. As ideias devem ser claras, objetivas, e a linguagem, pautada pela simplicidade, ou seja, sem pedantismos linguísticos e arcaísmos desnecessários. Exemplo: “Deveras, a hodierna prole sói olvidar do devido ósculo de partida em seus genitores”; tradução: Em verdade, os filhos de hoje em dia costumam se esquecer de beijar seus pais ao saírem”. 
 
O sucesso de um texto depende de muitos fatores. O equívoco mais frequente é acreditar que tudo é apenas gramática. A correção gramatical é sim muito importante, mas a proposta aqui é levar você a enxergar que existem outros aspectos tão ou até mais determinantes do que apenas isso. De nada adianta uma redação apresentar linguagem impecável, mas ter fugido ao tema ou defender ideias absurdas, por exemplo.

Tente compreender que, nessa exposição de valores, é importante verificar o que é ou não interessante de ser dito, aquilo que colocará você numa posição favorável ou não com relação aos demais. Se seu ponto de vista contradisser qualquer um dos princípios anteriormente expostos, o que fazer então? Mentir? Obviamente que não. A mentira nunca é uma solução. No entanto, uma mudança de paradigma, mesmo que temporária, pode surtir um efeito mais propício. Pondere se não seria um bom momento para mudar de opinião a respeito de algo ou de algum problema que nos cerca. E, afinal, você quer ou não a vaga? Vale a pena arriscar seu futuro profissional por um ponto de vista? Não se trata de cinismo, e sim de consciência.

Para finalizarmos convém que você não faça, em qualquer um dos tipos de texto, prescrições a seu leitor; não tente orientá-lo ou lhe dar ordens. Jamais se dirija diretamente a ele com frases comoVocê, amigo leitor, deve entender que (...)”, “Seja mais otimista no seu dia a dia (...)”, “Adote desde já um estilo saudável de vida (...)", etc. Compreenda que o seu leitor, na verdade, é o membro de uma banca examinadora e que seu texto não está sendo feito com qualquer outro propósito que não o de sofrer uma severa avaliação que determinará, no final das contas, a sua classificação. 

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