Tema
Um
inimigo inteligente é melhor que um amigo estúpido.
(Provérbio
africano)
Cuidando
para que a história tenha como personagens uma raposa e dois coelhos
selvagens, elabore um texto narrativo de estrutura clássica cujo
desfecho seja condizente com o provérbio africano acima.
O
dia da caça e do caçador
Marcelo
Ferreira de Menezes
No
meio das savanas africanas, dois coelhos eram perseguidos por uma
faminta raposa. A perseguição era vertiginosa, e, mesmo tendo quase
os capturado por diversas vezes, a caçadora não conseguia
abocanhá-los.
Enquanto
a caçada se desenrolava, o capim, muito seco, devido ao sol intenso,
incendiou-se, dando início a uma gigantesca queimada atrás dos
três, para cima dos quais o vento empurrava perigosas labaredas. As
chamas avançavam mais rápido do que a predadora e as presas
conseguiriam correr. Não demoraria muito para que todos morressem
queimados.
A
raposa percebeu isso. De nada adiantaria comer os coelhos e morrer
logo em seguida. Só morreria de estômago cheio, nada além disso.
Valeria mais a pena viver. Então teve uma ideia e propôs uma trégua
para se explicar.
— Vejam.
O fogo logo nos atingirá. Não teremos chance, e todos morreremos.
Temos de agir em grupo para nossa salvação. Então, façamos o
seguinte: ajudem-me a colocar mais fogo logo ali na frente. Quando as
chamas chegarem até nós, já não haverá mais o que ser queimado,
e nós sobreviveremos.
— Não
confie nela! Ela vai nos comer de qualquer maneira! E talvez fritos!
— reagiu um dos coelhos.
Perto
dos três havia um lago. Então o mesmo coelho que falara completou:
— Vamos
pular é dentro daquele lago!
— Você
ficou louco? — interceptou a raposa. — Nenhum de nós sabe nadar.
De certo nos afogaremos!
O
segundo coelho ficou indeciso entre o conselho da raposa e o de seu
amigo. Por fim, decidiu-se por ajudar a raposa. Ambos, segurando
gravetos em brasa, puseram fogo no caminho mais adiante, iniciando
uma nova queimada, que seguiu em frente empurrada pelo vento.
Enquanto isso, o primeiro coelho pulou no lago. Ele até que tentou
nadar, mas afundou rapidamente, desaparecendo nas águas.
Assim
que a queimada principal alcançou o ponto em que se encontravam os
dois sobreviventes, por não haver mais capim, o fogo se extinguiu,
tal como previra a raposa.
Ambos
trocaram olhares.
— E
agora? Como ficamos? — quis saber o segundo coelho, quando se viu
sozinho com sua predadora.
Ela
respondeu:
— Bom;
sou uma raposa e ainda tenho fome. Todo esse esforço só abriu mais
ainda meu apetite. Mas, sem sua ajuda, eu não teria sobrevivido
também. Assim, vou dar a você uns cinco minutos de vantagem. Corra!
O
coelho viu que não teria outra opção, mas, pelo menos, ainda
estava vivo. Mais sorte tivera ele do que o outro, que se
afogara. “Nesse caso”, ele pensou, “foi melhor confiar na
inteligência de minha inimiga, que no conselho infeliz de meu
estúpido amigo!”.