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Tema: Crie
uma narrativa cujo desfecho baseie-se na seguinte ideia: “Só
o futuro dirá se aquele fato foi bom ou ruim”.
Ventos
de incerteza
Henrique
dos Santos Santanna
A
vida de Otávio resumia-se em estudar. Aos dezessete anos, o filho
único do doutor Paschoal, proeminente cardiologista, vivia
entrincheirado em seu quarto, rodeado de livros, tabelas, fórmulas,
resumos.
― Será
médico que nem o pai! ― dizia o pai, com a certeza de quem não
admite réplica.
Otávio
contava os dias para o vestibular. Ciente do rumo que seu pai traçara
para sua vida, aguardava, com um falso entusiasmo, o grande dia. Às
vezes, parava para pensar sobre o futuro e percebia, com certo
assombro, que não era capaz de se imaginar fazendo outra coisa senão
aquilo que o pai desejava.
Enfim
chegou o grande dia. Antes de o sol nascer, deixou para trás o choro
emocionado da mãe e caminhou lentamente até a rodoviária da
cidadezinha.
A
viagem até a capital, a princípio tranquila, mostrou-se uma
verdadeira odisseia. A chuva batia com violência nos vidros do
ônibus, atrasando o tráfego e inundando de angústia a mente do
jovem. O calor, somado à ausência de café da manhã,
embrulhava-lhe o estômago, projetando no vidro embaçado um
semblante pálido e desanimado.
Desembarcou.
Trôpego, apanhou um táxi.
― Pra
Universidade Federal, e rápido! ― disse ao taxista, que respondeu
com um olhar despreocupado.
Ao
chegar, deparou-se com os portões trancados. Olhou o relógio e
percebeu que havia sido vencido pelo tempo. Desabou. Primeiro,
sentiu raiva e ódio, como se pudesse destruir tudo ao seu redor.
Depois, um estranho alívio, e a sensação de estar flutuando, sem
peso, sem preocupação. Antes, sentia-se como uma locomotiva que se
deslocava pelo trilho da vida, em linha reta. Agora era como pássaro
mergulhando nas nuvens do imprevisto.
Constatado
o inevitável, atravessou a rua e caminhou até o ponto de ônibus.
Estava encharcado. Atordoado, sequer notou a presença da jovem moça
que o observava. Diante da ausência de iniciativa, a jovem
aproximou-se:
― Ora,
anime-se. Um banho de chuva não é assim tão ruim! ― disse com a
voz alegre, ensaiando um sorriso tímido.
O
sol brilhava no horizonte, misturando-se à tormenta. O vento trazia
o doce aroma de chuva e desconhecido.