Texto narrativo (Em 07/11/16)


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  Tema: Crie uma narrativa cujo desfecho baseie-se na seguinte ideia: “Só o futuro dirá se aquele fato foi bom ou ruim”.


Ventos de incerteza
Henrique dos Santos Santanna

       A vida de Otávio resumia-se em estudar. Aos dezessete anos, o filho único do doutor Paschoal, proeminente cardiologista, vivia entrincheirado em seu quarto, rodeado de livros, tabelas, fórmulas, resumos.
       ― Será médico que nem o pai! ― dizia o pai, com a certeza de quem não admite réplica.
       Otávio contava os dias para o vestibular. Ciente do rumo que seu pai traçara para sua vida, aguardava, com um falso entusiasmo, o grande dia. Às vezes, parava para pensar sobre o futuro e percebia, com certo assombro, que não era capaz de se imaginar fazendo outra coisa senão aquilo que o pai desejava.
       Enfim chegou o grande dia. Antes de o sol nascer, deixou para trás o choro emocionado da mãe e caminhou lentamente até a rodoviária da cidadezinha.
       A viagem até a capital, a princípio tranquila, mostrou-se uma verdadeira odisseia. A chuva batia com violência nos vidros do ônibus, atrasando o tráfego e inundando de angústia a mente do jovem. O calor, somado à ausência de café da manhã, embrulhava-lhe o estômago, projetando no vidro embaçado um semblante pálido e desanimado.
        Desembarcou. Trôpego, apanhou um táxi.
       ― Pra Universidade Federal, e rápido! ― disse ao taxista, que respondeu com um olhar despreocupado.
       Ao chegar, deparou-se com os portões trancados. Olhou o relógio e percebeu que havia sido vencido pelo tempo. Desabou. Primeiro, sentiu raiva e ódio, como se pudesse destruir tudo ao seu redor. Depois, um estranho alívio, e a sensação de estar flutuando, sem peso, sem preocupação. Antes, sentia-se como uma locomotiva que se deslocava pelo trilho da vida, em linha reta. Agora era como pássaro mergulhando nas nuvens do imprevisto.
      Constatado o inevitável, atravessou a rua e caminhou até o ponto de ônibus. Estava encharcado. Atordoado, sequer notou a presença da jovem moça que o observava. Diante da ausência de iniciativa, a jovem aproximou-se:
      ― Ora, anime-se. Um banho de chuva não é assim tão ruim! ― disse com a voz alegre, ensaiando um sorriso tímido.
      O sol brilhava no horizonte, misturando-se à tormenta. O vento trazia o doce aroma de chuva e desconhecido.